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A jornada do pertencimento no ambiente corporativo, por Guilherme Bastos

Redação TN Petróleo/Assessoria
17/05/2022 09:07
A jornada do pertencimento no ambiente corporativo, por Guilherme Bastos Imagem: Divulgação Visualizações: 2090

O SXSW é um evento norte americano que se tornou referência para a inovação. Ao acompanhar uma palestra que debatia os principais temas da edição de 2022, uma palavra me chamou a atenção: belonging. O termo foi citado na abordagem sobre o novo horizonte da discussão de diversidade & inclusão. O desafio lançado era a busca para além da diversidade nos espaços e promoção de ações para inclusão e equidade. Agora, a meta é garantir o “senso de pertencimento”. 

É curioso o efeito que as palavras podem causar em cada um de nós. Saí do evento, fiz meu caminho de retorno e coloquei a cabeça no travesseiro com o termo belonging surgindo em diferentes fontes, cores e tamanhos em cada pensamento. Até que ela se tornou um questionamento: quando foi que eu comecei a me sentir “pertencido”? Na psicologia existe uma linha de análise que trata da “síndrome do bom menino”. Resumidamente, homens que foram ridicularizados por serem de alguma forma diferentes, quando se trata da sexualidade, acabam se esforçando em demasia para se tornarem bons meninos, mas deixando de ser acolhedor consigo mesmo. Eu fui um desses meninos. E percebi que, com esse mecanismo de defesa, cresci sem conseguir me permitir pertencer.

Não preciso dizer aqui que essa jornada não é fácil. Com o debate da diversidade & inclusão acontecendo em todas as esferas, são inúmeros os relatos da comunidade LGBTQIA+ sobre autoconhecimento, aceitação e orgulho de ser quem é. Mas o fato é que grande parte dessas pessoas passaram, e passam, por essa jornada sozinhos. Até pouco tempo atrás “sair do armário” no ambiente corporativo era algo fora de cogitação. Hoje ainda temos uma parcela de 20% de funcionários que não falam abertamente sobre o tema no trabalho, de acordo com pesquisa realizada pela consultoria Mais Diversidade em 2021.

Na minha jornada, quando aos 26 anos me senti finalmente confortável para falar abertamente sobre a minha sexualidade até mesmo com desconhecidos, tracei metas desafiadoras para a carreira.  A vontade de crescer em uma grande corporação era latente, mas, na mesma proporção, vinha o medo de como seria recebido nesse novo e idealizado ambiente. Até então havia trabalhado apenas em empresas de menor porte e, nelas, fazer esse debate com os colegas era mais fácil. 

Na época tentei vaga apenas na empresa onde estou hoje, a Ocyan, que se tornou o ambiente que me dá voz para escrever esse texto. Não fui o primeiro membro de uma comunidade plural como a LGBTQIA+ a chegar aqui, mas mesmo que no começo eu não encontrasse outros para compartilhar, sempre pude andar pelos corredores sem o incômodo pensamento: “alguém vai desconfiar de você”. 

Com a criação do programa de Diversidade & Inclusão da Ocyan, e mais recentemente um pilar LGBTQIA+, pude sentir ainda mais firmeza na hora caminhar sendo quem sou. Mas vale lembrar que ainda há muito o que se fazer na empresa, no mercado de Óleo, Gás e Energia - onde a Ocyan atua, no universo corporativo e na vida pública do país. 

Por mais que a estrada tenha sido difícil para mim, que tenho muitos privilégios por ser homem cis, branco, com percepção heteronormativa por muitos, ela é imensuravelmente mais difícil para tantos outros que ainda estão lutando para se entender, se aceitar, ter segurança física e psicológica para se permitir e, enfim, ser. A partir daqui, é hora de criarmos novos espaços para que esses possam, finalmente, pertencer. 

Sobre o autor: Guilherme Bastos é Analista de Inovação da Ocyan

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