Redação TN Petróleo/Assessoria Private Oil & Gas
Na indústria do petróleo, especialmente no ambiente onshore, a segurança operacional começa muito antes do primeiro barril produzido. Ela se estabelece nas estruturas que protegem o ativo, o meio ambiente e as pessoas. Entre elas, nenhuma é tão determinante quanto a rede de incêndio. Hidrantes com pressão adequada, bombas testadas, tubulações íntegras, carreteis acessíveis e estruturas anticorrosivas não são detalhes técnicos. São o limite entre um incidente controlado e uma crise que paralisa a operação, gera perdas milionárias e coloca vidas em risco.
Nos últimos anos, as interdições da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) vêm crescendo justamente por falhas relacionadas a sistemas de combate a incêndio. No Relatório Anual de Segurança Operacional 2023, a ANP registrou 253 não conformidades em fiscalizações, sendo 47 delas críticas, com um nível de criticidade de 19%. Além disso, somente no segundo semestre de 2023, foram registradas 668 interdições, e a maior parte delas se relacionava a falhas de integridade mecânica, categoria que inclui redes de incêndio deterioradas ou fora de operação.
Esses números ilustram um problema que afeta diretamente a produção. Quando a ANP interdita uma base, o impacto financeiro é imediato. Em auditoria sobre os Polos Bahia Terra e Carmópolis, a agência relatou que a interdição de diversos campos resultou em perda de 166.000 m³ de petróleo e 6,5 milhões de m³ de gás natural, representando R$ 15 milhões em prejuízo. Em outro caso, 156.000 m³ de petróleo e 52 milhões de m³ de gás natural foram perdidos, somando R$ 13,8 milhões, sendo que estes números não incluem custos indiretos, como multas, retrabalho e atrasos contratuais, o que torna o prejuízo ainda maior.
A maior parte desses impactos poderia ter sido evitada com uma rede de incêndio íntegra e operante. Hidrantes sem pressão, válvulas emperradas, tubulações corroídas e bombas inoperantes são recorrentes em fiscalizações. Trata-se de falhas que não dependem de alta tecnologia, mas de planejamento, manutenção preventiva e responsabilidade técnica. Manter o sistema de combate a incêndio adequado não é uma despesa operacional. É uma proteção direta ao faturamento e à continuidade do negócio.
Outro ponto crítico é a corrosão. No ambiente do petróleo, a degradação das estruturas metálicas é acelerada pela umidade, pelos produtos químicos e pela variação térmica. Sem pintura anticorrosiva adequada, tubulações perdem espessura e deixam de resistir à pressão mínima necessária para combate ao fogo. Uma linha corroída pode fraturar no momento mais crítico, inutilizando o sistema inteiro. Prevenir a corrosão é preservar a capacidade operacional.
Ademais, a rede de incêndio também protege quem está na linha de frente. Em inspeções recentes, a ANP interditou uma plataforma inteira porque a resistência ao fogo não garantiria o tempo mínimo de uma hora para fuga dos trabalhadores. Esse dado expõe o ponto mais importante: uma rede mal mantida coloca vidas em risco antes mesmo de impactar a produção.
A adequação dessas estruturas não deve ser vista como uma exigência distante. É um compromisso diário. É planejamento, inspeção, documentação e resposta rápida. É proteger o ativo contra falhas previsíveis e reduzir a exposição ao risco mais caro da indústria: a paralisação forçada por insegurança.
Quando a rede de incêndio funciona, o ativo opera com estabilidade. Quando falha, interrompe produção, destrói faturamento e expõe pessoas a riscos graves. No petróleo e gás, não existe produtividade sem proteção. E não existe futuro quando a prevenção é negligenciada.
Sobre a autora: Maria Gabriela de Moraes é diretora comercial da Private Oil & Gas.
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