Redação/Portal Ubrabio
Em 2010, a comunidade internacional intensificava as discussões sobre a necessidade de reduzir à metade as emissões globais de gases de efeito estufa até 2040. Dez anos se passaram desde então, e as ações dos países não apenas não foram suficientes para diminuir o lançamento desses gases, como levaram ao aumento de 14% de suas emissões anuais entre 2008 e 2018. É o que conclui um artigo publicado na revista "Nature" nesta quarta-feira (4). Um dos autores é o professor da Coppe/UFRJ Roberto Schaeffer.
O estudo "Emissões: o mundo tem quatro vezes o trabalho ou um terço do tempo" indica que, hoje, para que haja tempo suficiente para minimizar as consequências das mudanças climáticas, as ações práticas dos países para reduzir as emissões devem ser quadruplicadas em comparação ao que foi feito até o momento, tendo que acontecer em apenas dez anos, ou seja, até 2030.
Um dos autores do artigo, Schaeffer afirmou que, no Brasil, a expectativa atual para as emissões em 2030 ultrapassam a firmada cinco anos atrás na capital da França.
"O Brasil não apenas não está reduzindo suas emissões, mas está com expectativa de aumentá-las. Não teremos mais outros dez anos. Se perdermos essa década, realmente já era", alertou o acadêmico.
Schaeffer pontua também que a urgência da situação levou a comunidade internacional a concordar, em 2018, no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, que o aquecimento deve ser contido em 1,5°C, e não mais em 2°C, meta proposta pelo Acordo de Paris em 2015, o que pode facilitar a contenção dos efeitos das mudanças climáticas.
"Entendeu-se que mais de 1,5°C é muito mais perigoso do que se imaginava e que 2ºC graus mais quente seria algo desastroso", afirmou o professor.
Os pesquisadores apontam que, se ações climáticas sérias tivessem começado em 2010, os cortes necessários para os níveis de emissões seriam de cerca de 2% ao ano. Como as emissões só têm aumentado, para limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, os países deverão cortar suas emissões acima de 7% ao ano.
Para o mundo se manter numa trajetória compatível com um limite de aquecimento de 1,5ºC de agora até 2030, um dos caminhos reforçados por Schaeffer é a descarbonização dos sistemas elétricos e a eletrificação de tudo o que pode ser eletrificado.
"Quando o tema é o setor elétrico, aqueles países que têm termelétricas a carvão, inclusive o Brasil, devem pensar numa substituição por fontes renováveis, como eólica, solar ou nuclear. Hoje há a possibilidade de adotar carros e ônibus urbanos elétricos. E, para caminhões de longa distância, navios e aviões, deve-se usar biocombustível. As residências podem adotar os fogões elétricos, desde que a eletricidade da casa venha de fontes renováveis", orientou Schaeffer.
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