Na comparação com diesel, gás natural veicular, eletricidade gerada a partir de gás natural, biodiesel e eletricidade gerada a partir do sol e do vento, biometano leva a melhor; Brasil tem potencial para produzir 80 milhões m³/dia.
Redação/AssessoriaA viabilização do potencial brasileiro de produção de biometano, estimado em 80 milhões de metros cúbicos (m³) por dia, seria equivalente a 24% da demanda por energia elétrica do País e a 44% da demanda total por óleo diesel. Além de ter a menor pegada de carbono entre os combustíveis disponíveis, o biometano também contribuiria para diminuir a emissão de gases de efeito de estufa (GEEs). Se 47% do diesel queimado no Brasil em 2015 tivesse sido substituído por essa fonte de energia, teríamos reduzido em 74% as emissões de GEEs referentes àquele ano. Isso corresponde a 17% das metas brasileiras de redução de emissões.
Os dados foram apresentados pela Associação Brasileira de Biogás e Biometano (Abiogás) durante um workshop realizado pelo Fapesp Shell Research Centre for Gas Innovation (RCGI) em parceria com o Innovation Centre Denmark (ICDK) e com o Innovation Network For Biomass (INBIOM), em São Paulo, no final de agosto. E mostram que o Brasil tem condições de seguir os passos da Dinamarca – país onde a biomassa será o maior driver de energias renováveis nos próximos dez anos. No evento, que reuniu experts brasileiros e dinamarqueses, também foram discutidas novas tecnologias, como as biorefinarias para a produção de biocombustíveis e biofertilizantes de forma integrada.
“A Dinamarca será, provavelmente, o primeiro país do globo a banir definitivamente os combustíveis fósseis”, disse Jens Bo Holm-Nielsen, da Universidade de Aalborg. Segundo ele, a maior parte do biogás usado no país vem da agricultura (65%), sendo a beterraba sacarina (sugar beet) a principal fonte de origem do energético. Outros 53% vêm de efluentes de estações de tratamento de esgoto, 28% de aterros sanitários e 6% da indústria.
“Acreditamos que o biogás da biomassa tem enorme potencial. É uma área que ainda está se desenvolvendo. Na Dinamarca, temos 40 anos de experiência de produção de biogás a partir da biomassa. Esperamos poder compartilhar experiências e colaborar para incrementar o debate sobre o tema no Brasil”, afirmou Stina Nordsborg, diretora do Innovation Centre Denmark, instituição ligada ao Ministério de Relações Exteriores da Dinamarca.
O biogás tem entre 50% e 60% de metano, podendo ser usado em sua forma bruta, para motores a combustão e afins, ou passar por um processo de purificação que resulta no biometano – combustível que pode substituir o gás natural por concentrar até 90% de metano. Uma das linhas de pesquisa do RCGI, liderada pela professora Suani Teixeira Coelho, do Instituto de Energia e Ambiente (IEE), é justamente focada no mapeamento da capacidade de produção de ambos energéticos no Estado de São Paulo.
Mapeamento – Segundo a Abiogás, no Brasil, o maior potencial de produção de biogás está no setor sucroenergético (56 milhões de m³/dia). Na sequência vem o setor de produção de alimentos (17 milhões de m³/dia) e, por fim, o setor sanitário (7 milhões de m³/dia). Em São Paulo, o maior potencial de produção está na indústria da cana, sobretudo na vinhaça, um refugo da produção de etanol. “Considerando-se a safra 2015/2016 seria possível produzir 302.848 m3/h de biogás e 151,424 m3/h de biometano, com potencial de geração de 4.133 GWh/ano de energia”, resumiu Suani.
O presidente da Abiogás, Alessandro Gardemann, enfatizou a baixa pegada de carbono do biometano. “Analisando a intensidade de carbono do ciclo de vida de vários energéticos – diesel, gás natural veicular, eletricidade gerada a partir de gás natural, biodiesel, eletricidade gerada a partir do sol e do vento e biometano – concluímos que o biometano leva vantagem sobre todos. Enquanto o diesel emite mais de 100 gCO2eq/MJ e o gás natural veicular mais de 80 gCO2eq/MJ, o biometano tem uma emissão negativa de algo em torno de -20 gCO2eq/MJ”, disse.
Regulamentação – Na avaliação da professora Suani Coelho, o momento é propício para a discussão deste assunto, tanto que estão sendo estabelecidas políticas para a injeção do biometano nas redes de gás canalizado. Em São Paulo, a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado (Arsesp) acaba de deliberar a regulamentação das condições de distribuição de biometano na rede de gás canalizado do Estado de São Paulo (deliberação nº 744/2017). Essa medida estabelece as regras para que o biometano fornecido pelos produtores possa ser inserido na rede.
Nas próximas semanas, o Estado de São Paulo irá definir e publicar o percentual de biogás que deverá ser injetado na rede paulista. “Estamos elaborando uma legislação que torna obrigatório um percentual de biogás na rede paulista. Provavelmente, isso será feito de forma escalonada, começando em 2020 com um determinado percentual e aumentando de quatro em quatro anos”, adiantou o subsecretário de Energias Renováveis de São Paulo, Antonio Celso de Abreu Júnior.
Em junho, a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) também estabeleceu regras para o controle de qualidade e a especificação de biometano oriundo de aterros sanitários e de estações de tratamento de esgoto para uso veicular, residencial, industrial e comercial – uma regulamentação há muito esperada pelo setor.
Sobre o RCGI: O RCGI – FAPESP-SHELL Research Centre for Gas Innovation realiza pesquisas de classe mundial para desenvolver produtos e processos inovadores, e estudos que viabilizem a expansão do uso do gás no Brasil de forma sustentável. Os pesquisadores do RCGI atuam em quatro programas de pesquisa: Engenharia, Físico/Química, Captura e Armazenamento de Carbono, e Políticas de Energia e Economia. Sediado na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, na capital paulista, o RCGI é financiado com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e da empresa Shell. Saiba mais: http://www.rcgi.poli.usp.br/pt-br/
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