Investida da CTG no Brasil está apenas no começo.
Valor Econômico
A investida da China Three Gorges (CTG) no Brasil está apenas no começo. Segundo fontes próximas aos executivos chineses, a controladora da hidrelétrica de Três Gargantas, no rio Yangtze, já teria encontrado um endereço na Avenida Faria Lima, na cidade São Paulo, para abrir seu próprio escritório, e conta com o aval de Pequim para competir pelos ativos de geração e distribuição de energia no mercado brasileiro até mesmo com outra gigante chinesa, a State Grid, o maior grupo de transmissão de eletricidade do mundo.
Tanto assim que as duas estatais entraram no leilão da usina de São Manoel, no Pará, realizado em dezembro, contrariando as expectativas do mercado. Em outros leilões, apenas uma empresa chinesa costumava participar, evitando, assim, a concorrência entre elas, diz um consultor.
No caso de São Manoel, a CTG venceu a disputa. A concessão da hidrelétrica foi arrematada por um consórcio liderado pela Energias do Brasil (EDB), subsidiária brasileira do grupo português EDP, do qual a CTG é sócia desde 2011, quando o governo de Portugal privatizou a companhia. A EDB possui 67% do consórcio que venceu São Manoel, enquanto Furnas, do grupo Eletrobras, detém os 33% restantes.
É bem provável que os chineses comprem no futuro uma participação direta na usina, cuja obra está orçada em R$ 2,7 bilhões, assim como já fizeram em outros dois projetos que estão sendo construídos pela EDP no Brasil. No início de dezembro, a CTG pagou um preço generoso à EDP do Brasil, de R$ 865 milhões, por participações de 50% nas hidrelétricas de Santo Antônio do Jari e Cachoeira Caldeirão, no Amapá. Os valores desembolsados pelos chineses corresponderam a 70% do valor patrimonial dos ativos, segundo um analista. "Eles pagaram bem", afirma.
Procurada pelo Valor, a Energias do Brasil não retornou o pedido de entrevista.
Segundo uma fonte, é possível que a CTG compre um terço das ações de São Manoel, apesar de não estar claro ainda para o mercado como a operação será configurada. Mas, para os futuros leilões, pode ser até mesmo que os chineses já entrem com uma participação direta nos próprios consórcios que disputarão os ativos, ao lado dos portugueses, avalia um executivo do mercado.
O fato de ter por trás uma estatal chinesa explica a agressividade da Energias do Brasil no leilão de São Manoel. O lance feito pela empresa surpreendeu o mercado, mas também assustou os acionistas minoritários da EDB, ao demonstrar que a empresa será mais um vetor para a expansão das estatais chinesas no setor elétrico brasileiro.
A Energias do Brasil ofereceu vender o megawatt-hora que será gerado pela usina por R$ 83,49, valor 22% inferior ao preço-teto estabelecido no leilão. O deságio, comemorado pelo governo, ficou bem abaixo dos lances feitos pelos concorrentes, que teriam se situado entre R$ 95 e R$ 100, segundo rumores. O governo não revela quais os consórcios que disputam os leilões, ou os preços ofertados, por considerar essas informações estratégicas para as futuras licitações. Circulam nos bastidores do mercado que a State Grid participou do leilão em um consórcio com a Copel e que a CPFL também teria apresentado uma proposta.
Pelo acordo firmado em Portugal, a CTG comprometeu-se a investir € 2 bilhões na aquisição de participações acionárias em projetos da EDP no mundo. "Esses aportes dobram o poder de fogo da multinacional portuguesa no Brasil", afirma Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Segundo ele, a expectativa é que a CTG concentre sua expansão, nesta primeira fase, no setor de geração, mas a Energias do Brasil também pode investir em distribuição se aparecer a oportunidade.
Castro avalia ser improvável que a empresa se desfaça de seu braço de distribuição no país, onde os portugueses controlam duas companhias, a EDP Bandeirante, que atua no interior de São Paulo, e a EDP Escelsa, que atende o Espírito Santo.
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