Assessoria
Com o objetivo de apoiar a agenda de fortalecimento institucional das Organizações da Sociedade Civil (OSCs) - geralmente conhecidas como ONGs - , a Plataforma Conjunta lança duas novas sessões no seu site, que são curadoria de jornadas formativas (JF) e ofertas de recursos financeiros (RF) e um estudo inédito que analisa as oportunidades voltadas ao Desenvolvimento Institucional (DI) das OSCs no Brasil.
A Conjunta é uma plataforma on-line voltada para lideranças e profissionais que atuam nas áreas de gestão de OSCs, mapeando, organizando e promovendo conteúdos e oportunidades de formação e captação de recursos com foco no desenvolvimento dessas organizações. O estudo recém-lançado resulta de um esforço colaborativo e detalhado, a partir da análise de 232 iniciativas mapeadas em todo o país, entre agosto e dezembro de 2023.
A pesquisa revelou importantes achados sobre o panorama das oportunidades de apoio ao DI no Brasil, destacando lacunas e padrões que podem orientar novas iniciativas. Entre as descobertas, o estudo aponta que cursos de curta duração predominam nas jornadas formativas, enquanto as fundações independentes - aquelas que não estão vinculadas a empresas ou a famílias específicas - lideram as ofertas de recursos financeiros. Contudo, a transparência sobre as condições dos investimentos e critérios de seleção ainda é um desafio.
O levantamento teve como objetivo inicial abastecer as duas novas categorias da plataforma Conjunta, mas se mostraram muito mais do que isso. “Não há uma consolidação das informações sobre oportunidades de apoio ao DI de OSCs no Brasil e não aproveitar esse material seria um desperdício. Desvendar o cenário das atividades voltadas ao fomento do DI de OSCs e compartilhar os achados com todas as pessoas interessadas no tema é uma oportunidade para destacar lacunas, demandas e oportunidades, de modo a influenciar e fomentar positivamente novas iniciativas e formas de apoiar o desenvolvimento organizacional das OSCs”, afirma Camila Stefanelli, coordenadora-executiva da Plataforma Conjunta.
Para conduzir o mapeamento de iniciativas, a Conjunta contou com parceiros externos e organizações do Comitê Consultivo Colaborativo. Com base no mapeamento, o estudo identificou 145 jornadas formativas e 87 oportunidades de acesso a recursos financeiros, totalizando 232 iniciativas. Os dados foram coletados e analisados por uma equipe experiente, composta pelos pesquisadores parceiros, Andressa Trivelli e Cássio Aoqui, e revisados por um comitê de especialistas em Desenvolvimento Institucional, lideranças de OSCs e representantes de financiadores.
“É importante lembrar que esse estudo é uma foto de um intervalo de, aproximadamente, cinco meses de pesquisa, em que duas coisas me chamam a atenção. A primeira é que tem “bastante gente nessa foto”, ou seja, existem muitas coisas sendo feitas e muitas ofertas de DI sendo trazidas ao mundo. A segunda é que, ainda assim,precisamos de muito mais gente na foto. Somos mais de 800 mil organizações no Brasil, segundo o Mapa das OSCs do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Fortalecer as organizações têm um potencial enorme de nos fazer avançar no sentido de endereçar nossos principais desafios socioambientais e garantir a manutenção de uma democracia forte”, destaca Erika Sanchez Saez, diretora-executiva do Instituto ACP e cofundadora e membro do comitê gestor da Plataforma Conjunta.
Achados das ofertas de jornadas formativas
Para destrinchar os achados de forma simplificada, o estudo conta com a seção “Panorama Rápido”, em que apresenta os dez principais destaques das jornadas formativas e as oportunidades de acesso a recursos financeiros identificados na pesquisa.
Todas as ofertas de recursos mapeadas têm como característica obrigatória o envolvimento de doações de dinheiro ou financiamento (sem objetivo de retorno financeiro). Nas Jornadas Formativas, o estudo sublinha a predominância de cursos com foco em gestão administrativa e gerenciamento de projetos, evidenciando a ênfase em capacitações técnicas. No entanto, identifica-se uma lacuna significativa na abordagem de aspectos políticos e culturais do DI. A maioria das jornadas é oferecida virtualmente, permitindo uma abrangência nacional, mas com poucas políticas afirmativas para garantir diversidade regional.
Segundo o pesquisador Cássio Aoqui, os principais achados nas jornadas de aprendizagem são que as ofertas que existem para OSCs têm um olhar técnico voltado para gestão. “O que a gente sente é que ainda tem grandes oportunidades para um olhar mais político das OSCs, pois elas vêm para trazer reflexões, resistências e olhar para um lugar de institucionalidade, que é mais amplo do que a própria organização. São poucas as iniciativas que de alguma forma fortalecem essas organizações para trabalharem nesse sentido e ampliando a sua incidência e a sua institucionalidade, e raras as que inclusive apoiam essas organizações para que elas entendam mais sobre o que é desenvolvimento institucional”, ressalta.
Ele ainda destaca que muitas jornadas são de graça (75%) e que dentre as que são pagas, poucas oferecem bolsas (10%). No total de jornadas mapeadas, apenas 28% trazem políticas afirmativas ou critérios de diversidade e os utilizam na seleção.
Retrato das ofertas de oportunidades de acesso a recursos financeiros
Em relação às oportunidade de acesso aos Recursos Financeiros, Cássio, que também é consultor em filantropia e em DI, destaca que quem financia o DI no Brasil, são, em grande parte, organizações que estão alinhadas com temáticas de justiça social e acesso e defesa de direitos e são fundações e institutos independentes (75%). Há poucas empresas do setor privado e corporativo achadas no mapeamento.
Outro apontamento é em relação à flexibilidade do recurso que apoia o DI.“No estudo a gente encontra muito claramente entre as iniciativas de recurso financeiro mapeadas, recursos flexíveis. Isso realmente é o padrão de grande parte da nossa amostra. No entanto, quando a gente vai olhar para a longitudinalidade, são raros aqueles que oferecem apoios de longo prazo. Eu acho que a gente tem ali um grande caminho de olhar e trabalhar para uma lógica que vai além de 12 meses e do balanço patrimonial”, salienta.
Além da falta de apoios de longo prazo, há uma carência de clareza nos critérios de seleção e elegibilidade, o que compromete a transparência do processo.
Ainda de acordo com o pesquisador, trabalhar numa perspectiva de desenvolvimento institucional efetivo dificilmente leva menos de três a cinco anos e, eventualmente, até mais. “A gente não consegue apressar a mudança social efetiva, que é aquela que realmente vai transformar territórios, diminuir desigualdades, mudar ponteiros, índices de educação, saúde ou seja lá qual for a temática, se a gente não olhar para esse longo prazo. Esse é um ponto de atenção que o estudo traz e que é absolutamente relevante para o nosso campo nos dias atuais, e a partir de agora, entender como as organizações financiadoras vão olhar mais para esse longo prazo e para que essa relação de parceria não fique limitada há poucos meses”.
Publicação destaca sugestões e reflexões finais
Durante o mapeamento, que ocorreu entre agosto de dezembro de 2023, foi utilizada uma ampla variedade de fontes e metodologias, incluindo pesquisa secundária no banco de dados interno e na internet, definição de categorias em colaboração com parceiros, aplicação e análise de questionários semiestruturados, realização de grupos focais virtuais, comunicação por e-mail e WhatsApp com diversas organizações.
“O DI no ecossistema do terceiro setor evoluiu timidamente na última década no Brasil, ainda carece de dados, conhecimento, apropriação da importância pelo setor e principalmente investimentos. O estudo surgiu quando percebemos que era uma ótima oportunidade de um olhar, ainda que não exaustivo, para entender como estão distribuídas as jornadas formativas e recursos financeiros voltados para o tema. O estudo é um excelente ponto de largada e traz achados importantes de desafios e obstáculos”, explica Michele Rocha, gerente de DI de OSCs do Instituto humanize, cofundadora e membro do comitê gestor da Plataforma Conjunta.
Além do mapeamento, o estudo traz uma análise crítica e propositiva sobre as ofertas disponíveis, buscando influenciar positivamente o campo e fomentar novas formas de apoio ao desenvolvimento das OSCs no Brasil. Para contribuir com o avanço das iniciativas de DI, ao final do estudo 16 sugestões e reflexões finais tiveram destaque.
Nas reflexões, foram citados tópicos como conscientização sobre DI; a necessidade de expandir a visão sobre o desenvolvimento institucional para além das capacidades técnicas, considerando aspectos culturais e políticos, e a importância de alinhar as ofertas de apoio ao contexto e às necessidades específicas das OSCs. Destaca-se ainda o papel da inovação no fortalecimento institucional e a necessidade de práticas mais inclusivas e equitativas nos processos de seleção e apoio a organizações da sociedade civil, além de um chamado para o financiamento de DI no longo prazo, essencial para a efetivação da mudança social.
Para mais informações, acesse a Plataforma Conjunta e explore o estudo completo sobre as oportunidades de Desenvolvimento Institucional para OSCs.
Sobre a Plataforma Conjunta
A “Plataforma Conjunta” é uma plataforma on-line que mapeia, organiza e promove a produção de conteúdos, experiências de jornadas formativas e oferta de recursos financeiros que tenham como foco o desenvolvimento institucional das organizações da sociedade civil no Brasil. Trata-se de uma iniciativa colaborativa focada em disseminar conhecimento, ferramentas, boas práticas de gestão, formações, construção de redes e oportunidades de acesso a recursos financeiros que fortaleçam a missão social das OSCs, atualmente conta com o colaboração de 40 organizações do terceiro setor www.conjunta.org/
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