Dados são da FGV.
Valor Econômico
Os empresários da indústria permanecem pessimistas em abril e não veem sinal de melhora na atividade industrial nos próximos meses. A avaliação partiu do Coordenador de Sondagens Conjunturais do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Aloisio Campelo. Ele fez a observação ao comentar sobre o aumento de 0,3% na prévia do Índice de Confiança da Indústria (ICI) deste mês, divulgada ontem pelo Ibre/FGV. Caso confirmada, seria o primeiro resultado positivo do indicador no ano.
Esse aumento, no entanto, não indica melhora futura para o cenário industrial, na análise dele. Na prática, ajustes nos estoques melhoraram a avaliação do empresário sobre a situação atual - o que puxou para cima a prévia do ICI de abril. "As expectativas continuaram negativas em abril", afirmou.
A indústria tem lidado com patamar elevado de estoques desde o segundo semestre do ano passado, lembrou ele. Houve ligeira melhora em janeiro; mas que foi seguida por novos sinais de aumentos, em fevereiro e em março desse ano - e sinais de melhora na prévia do ICI de abril, anunciada ontem. Mas a redução dos estoques não ocorreu de forma generalizada. Campelo explicou que, entre as categorias de uso, a melhora no nível de estoques, em abril, ocorreu principalmente na indústria de não duráveis. "As indústrias de bens de capital e de duráveis continuam muito estocadas em abril", acrescentou.
Para Campelo, o contexto atual não é favorável para melhora na demanda da indústria e, por consequência, para o reaquecimento na atividade do setor. Ele lembrou que permanecem indicativos de continuidade no endividamento elevado das famílias, com juros elevados e crédito mais caro. Ao mesmo tempo, o mercado externo, que poderia ser uma válvula de escape para a produção industrial brasileira, em momentos de desempenho interno fraco, não opera em condições competitivas com câmbio desfavorável e crise na Argentina, um dos principais parceiros comerciais do Brasil.
O especialista lembrou ainda que o governo não tem ensejo de promover novas rodadas de isenção ou redução do IPI para a indústria, devido ao impacto dessas medidas no equilíbrio fiscal da União. Isso, na prática, também não contribuiria para uma possível reação na atividade industrial.
Esses fatores reunidos levam o empresário a não visualizar perspectiva de melhora, na demanda e na atividade, nos próximos meses, avaliou ele. Campelo comentou que isso contribuiu para ritmo mais fraco no Nível de Utilizacão de Capacidade Instalada (Nuci), cuja prévia de abril indica queda de 0,2 ponto percentual em relação a março desse ano.
Campelo chamou atenção para a pontuação do Índice de Confiança da Indústria (ICI), que opera abaixo de 100 pontos desde agosto do ano passado - sendo que, quanto mais distante dessa faixa, pior o resultado. Na prévia de abril, o ICI indica desempenho de 96,5 pontos no mês. "A última vez em que tivemos um ICI abaixo de 100 pontos foi na crise de 2009, e também por período de nove meses", disse, não descartando a possibilidade de, esse ano, o indicador cair por tempo mais prolongado do que o observado durante a crise global. "Por enquanto, não há expectativa de melhora. Os empresários não vislumbram atividade mais forte no futuro. Continuamos em um período de desaceleração da atividade", disse.
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