<P>A abertura unilateral temporária a importações e a retirada de obstáculos à entrada de produtos estrangeiros seriam medidas bem mais eficientes contra a valorização cambial do que as que podem ser tomadas no âmbito do Banco Central (BC). A opinião foi dada em entrevista ao Estado pelo ex...
O Estado de S. PauloA abertura unilateral temporária a importações e a retirada de obstáculos à entrada de produtos estrangeiros seriam medidas bem mais eficientes contra a valorização cambial do que as que podem ser tomadas no âmbito do Banco Central (BC). A opinião foi dada em entrevista ao Estado pelo ex-presidente do BC e um dos pais do Plano Real, Gustavo Franco, sócio da empresa de investimentos Rio Bravo. É o importador que salvará o exportador. Se eles são a mesma pessoa, até facilita, afirmou.
O economista, que é também professor da PUC-Rio, é taxativo ao identificar a causa do fortalecimento do real: o saldo comercial do Brasil com o exterior. Não vai haver reversão da tendência de valorização cambial, se o superávit comercial não se reduzir de forma significativa. Não é possível matematicamente que nós mantenhamos um superávit comercial desse tamanho e tenhamos uma taxa de câmbio agressiva, que agrade aos exportadores, disse.
Por esse motivo, Franco vê uma tendência do real subir mais ainda e não enxerga nenhum sinal no horizonte de que isso vá se reverter. Para ele, a moeda brasileira só não sobe mais devido às compras de dólar feitas pelo BC. Mesmo assim, avalia, é muito pouco o que o Banco Central pode fazer para reverter a tendência de valorização do real.
Franco acredita que a taxa de câmbio valorizada afeta todo mundo e defende que o governo tome medidas. Ele considera um discurso equivocado o que defende que a abertura só deve ser concedida mediante reciprocidade de outros países. Se for esperar o desfecho de acordos comerciais na OMC (Organização Mundial do Comércio), Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e União Européia para fazer a liberalização, pode botar mais uns dez anos aí que não vai acontecer nada com a importação, disse. Acordos comerciais estão em perspectivas de longo prazo, ao passo que precisamos fazer alguma coisa agora.
Ele admite que um aumento de importações poderá afetar setores da indústria. Para alcançar algum objetivo meritório, algum sacrifício está sempre envolvido, disse. Também observou que o aumento da importação pode ser um problema para uma empresa que não tem condições de competir com um produto importado barato, mas beneficia o consumidor. Por que o consumidor é obrigado a comprar um produto brasileiro mais caro?, questiona.O câmbio valorizado, por sua vez, dói mais nos setores menos competitivos. Para ele, é normal que alguns setores deixem de exportar à medida que a moeda brasileira vá se valorizando. É assim no mundo todo.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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