O Brasil precisa reabrir a discussão sobre desenvolvimento regional, à luz das recentes descobertas de petróleo na camada do pré-sal. Com tamanho potencial de movimentação de recursos, o Nordeste tem de se inserir no debate sobre o modelo de exploraç&
Diário do NordesteO Brasil precisa reabrir a discussão sobre desenvolvimento regional, à luz das recentes descobertas de petróleo na camada do pré-sal. Com tamanho potencial de movimentação de recursos, o Nordeste tem de se inserir no debate sobre o modelo de exploração destas reservas petrolíferas, sob pena de deixar passar mais um modelo concentrador de ativos, como hoje são os royalties destinados a estados e municípios produtores do combustível fóssil.
A opinião é da economista Tânia Bacelar, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que carrega, como ela mesma diz, o carma de ter sido responsável pela recriação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). "A descoberta do pré-sal é um fato interessante e vai influir muito no futuro. Mas esse debate, o Nordeste e o pré-sal, cadê?", questiona ela, que esteve ontem em Fortaleza, no lançamento da Rede de Planejamento do Estado do Ceará.
Pólo produtivo
Tânia lembra que o Nordeste não tem identificado, até o momento, presença física de petróleo na camada pré-sal. Mas pode ser beneficiado por seu impacto. "Pernambuco, por exemplo, está defendendo que pode ser um pólo de produção de máquinas, equipamentos e serviços para o setor de petróleo e gás", diz. Para ela, uma posição que pode ser adotada pelos demais estados, como o Ceará, que já possui tradição na indústria metalúrgica e moveleira.
A economista acredita que o Governo Lula vai fazer valer a sua autoridade para definir um modelo de exploração do pré-sal que beneficie toda a sociedade. "Os royalties vão ser rediscutidos. Não tenho a menor dúvida. Esse dinheiro (do pré-sal) não é de estados nem de municípios. É da sociedade", pontua.
Tânia Bacelar lembra que a região nordestina já é pensada estrategicamente pelo governo federal. Ela cita os investimentos recentes da Petrobras e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que destina 35% dos recursos previstos para a região. "Em vez de ampliar velhas refinarias, a Petrobras resolveu construir novas no Nordeste. E a estatal está reconstruindo a indústria naval neste País, mudando sua sistemática de licitações e se voltando para fornecedores nacionais", ressalta.
Novos investimentos
Sem bairrismo, a economista pernambucana fala que o Nordeste comporta novos investimentos produtivos. Ela cita a vinda da Vale para o Ceará, como sócia na Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP). "Vocês já têm um porto, uma infra-estrutura boa, tanto que começaram a atrair investimentos. Não podemos perder tempo disputando uma única siderúrgica. Temos que mostrar que a região pode abrigar três até porque todas as que foram construídas no passado foram de Belo Horizonte para baixo", argumenta.
Biocombustíveis e alimentos
Bacelar destaca o potencial brasileiro e nordestino para a produção de biocombustíveis e alimentos. "No mundo pós-crise, vai crescer a demanda por alimentos. E o mundo vai querer trocar a energia fóssil por outro tipo de energia, principalmente a biomassa. O Nordeste precisa acender a luz vermelha para esta macrotendência: ou conquista espaço ou deixa a oportunidade passar".
Hoje, a região está praticamente de fora da produção de etanol e apostou na mamona para o biodiesel, até o momento sem o retorno esperado.
FALTOU APOIO POLÍTICO
Recriação da Sudene não trouxe o êxito esperado
A autarquia foi recriada no governo petista, mas, até o momento, não mostrou a que veio Nordeste tem de se inserir no debate, sob pena de deixar passar mais um modelo concentrador de ativos
Faltou apoio político dos governadores do Nordeste para que a recriação da Sudene tivesse o êxito esperado. É o que avalia a economista Tânia Bacelar. Extinta no governo Fernando Henrique Cardoso, a autarquia foi recriada no governo petista, pelas mãos da professora pernambucana mas, até o momento, não mostrou a que veio.
"Os governadores até hoje se reúnem fora da Sudene. Eles negociaram no Congresso o dinheiro da Sudene para eles", diz ela, referindo-se ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional (FNDR), que até hoje não saiu do papel. "É uma espécie de FPE (Fundo de Participação do Estados) 2. Mas foi uma vitória de Pirro", critica.
Para Tânia Bacelar, foi uma injustiça terem colocado na Sudene um carimbo de instituição corrupta. "Quando você faz um balanço do que a Sudene deixou no Nordeste e o tamanho da corrupção que teve lá, o primeiro pesa muito mais. Corrupção tem no Brasil todo e ninguém fecha órgão por isso", alfineta.
Tânia acrescenta que, se o problema da autarquia era corrupção, basta apurar e punir os culpados. Além da fragilidade financeira e política da Sudene, a economista lembra que houve desperdício de capital humano com a sua extinção. "Nunca aceitei o fechamento da Sudene. Para mim, foi uma decisão equivocada do presidente Fernando Henrique. Você matou a instituição e dispensou um grande patrimônio que era gente. Quantos anos você vai levar para formar de novo uma geração de técnicos?", questiona.
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