Biocombustíveis

Óleo de soja ganha espaço nos tanques

Valor Econômico
08/03/2006 03:00
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Em meados de fevereiro, o agricultor Geraldo Campagnolli, de 69 anos, foi a um supermercado de Maringá, no noroeste do Paraná, e comprou 80 frascos de óleo de soja. Ele não planejava mudar de profissão e abrir um restaurante, nem fazer estoque do produto.

Queria, como outros colegas, experimentar um combustível mais barato. O primeiro teste foi em sua caminhonete ano 1990. Alguns dias depois, foram usados como "cobaias" quatro tratores, que no plantio de milho na propriedade que possui em Floresta (PR) foram abastecidos com 50% de óleo diesel e 50% de óleo de soja. Aprovada a mistura, ele se prepara para usá-la em duas colheitadeiras.

Campagnolli é um dos muitos produtores rurais do país que, para baixar custo em um período de vacas magras, estão ampliando os testes com esse combustível não só no Paraná, mas também em Goiás, Mato Grosso e Minas, entre outros Estados.

Particularmente no Centro-Oeste, onde as longas distâncias resultam em custos elevados, a aposta ganhou relevância desde 1994, quando a maré no mercado de soja começou a mudar.

A estratégia não esperou adaptações de motores ou a descoberta da melhor fórmula para substituir o diesel por óleo de soja. Misturado em diferentes proporções ao derivado de petróleo ou usado puro, o produto deixou a cozinha e tem sido colocado no tanque dos veículos. "Comecei a usar há seis meses, meio a meio. Hoje uso 20% de óleo de soja e faço uma boa economia", contou o também paranaense Vicente Gesualdo.

Estudos e experiências da substituição tinham sido feitos em geradores de energia e outros motores, mas o movimento em direção às lavouras é mais recente. A Cocamar, cooperativa de Maringá, percebeu a demanda no fim de 2005, quando cooperados passaram a comprar latas com 18 litros de óleo de soja, embalagem normalmente vendida para restaurantes.

A pedido dos produtores, em janeiro passado ela iniciou a venda do produto a granel, em tambores de 200 litros. Até agora, vendeu cerca de 40 toneladas do produto para uso em máquinas agrícolas.

A granel, o litro do óleo de soja é vendido pela cooperativa por R$ 1,33, enquanto nos postos da região o litro do diesel sai por R$ 1,90.

"Não temos a expectativa de ter demanda alta nesse segmento", ressalvou o superintendente da Cocamar, Celso Carlos dos Santos Júnior, que considera absurda essa diferença de valores, criada a partir do aumento de preço dos derivados de petróleo e da queda da soja.

O executivo informou que uma caixa com 20 frascos de óleo costuma custar o mesmo preço de um saco do grão, que em 2004 chegou a ser negociado por R$ 54 e, hoje, vale aproximadamente R$ 24.

Santos Júnior estima em 50 o número de cooperados que estão abastecendo suas máquinas com óleo de soja da Cocamar. Mas novos usuários chegam a cada dia na região. "Falei para um amigo que estava usando e ele passou a usar", disse Campagnolli, que chegou a experimentar óleo de soja puro em sua caminhonete e citou duas razões para incentivar o uso do produto. "Além de diminuir o custo de quem vive da lavoura, o aumento no consumo pode melhorar o preço da soja".

Na área de atuação da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), de Rio Verde, houve uma febre de uso de óleo vegetal como combustível no fim de 2005. Mas, segundo o superintendente José Walter Vilela de Lima, ela esfriou um pouco. "Soubemos que algumas pessoas tiveram problema porque o motor não consegue queimar a glicerina do óleo de soja, que fica acumulada no motor". A granel, a cooperativa vendeu cerca de 20 toneladas.

"Recebo consultas sobre o assunto do Brasil inteiro", disse o pesquisador Bill Jorge Costa, gerente da Divisão de Biocombustíveis do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), ligado ao governo do Estado. Em resposta, ele avisa que o motor funciona com óleo vegetal, mas não foi concebido para o uso desse produto, e sim para o diesel. Por isso não são descartados problemas posteriores.

"Essa prática se acentuou nos últimos meses e algumas pessoas argumentam que, mesmo que o motor estrague, compensa o uso, mas temos sugerido cautela", contou Costa, que no mês passado escreveu o artigo "Cuidado: óleo vegetal puro não é biodiesel", para colocar no site do instituto.

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