Valor Econômico
O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Clifford Sobel, disse ontem que está surgindo uma nova área de cooperação entre os dois maiores países das Américas: petróleo. Após a descoberta de importantes reservas do combustível em águas profundas do litoral brasileiro, os americanos já enxergam o país como fornecedor e estudam possibilidades de parcerias entre empresas nessa área.
"Se a Petrobras quiser embarcar o petróleo para os Estados Unidos, tenho certeza que os EUA estarão muito dispostos a receber esse combustível", disse Sobel ao Valor. Depois de ressaltar que a decisão cabe ao Brasil e a Petrobras, ele acrescentou que "os EUA esperam que o Brasil se torne um importante fornecedor de combustível fóssil no futuro".
Segundo o embaixador, será "natural" que o Brasil exporte petróleo para os Estados Unidos na medida em que disponha de excedentes por conta da proximidade entre os dois países. Ele enfatizou que a Petrobras já possui refinarias nos EUA. A estatal brasileira adquiriu recentemente uma planta em Passadena, Texas. Para garantir a segurança energética e reduzir a dependência de regiões politicamente conturbadas, os EUA buscam diversificar as fontes de petróleo.
Embora o Brasil ainda não seja um fornecedor relevante, as vendas de petróleo do país para os EUA aumentaram 10 vezes em valor, saltando de US$ 330 milhões em 2004 para US$ 3,1 bilhões em 2007, conforme a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). No ano passado, o petróleo ultrapassou aviões e ocupou o posto de principal item da pauta de exportação.
Sobel - que participou ontem do Fórum Brasil - Estados Unidos realizado pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio) e pelo Centro de Política Hemisférica da Universidade de Miami - também enxerga oportunidades de parcerias com petrolíferas americanas como Exxon e Chevron, ou empresas fornecedoras de serviços como a Halliburton.
O embaixador ressaltou que funcionários do governo americano devem em breve vir ao Brasil para discutir o assunto. Na próxima semana, chega ao país o secretário de Segurança Interna, Michael Chertoff. "Neste estágio, estamos procurando maneiras de ajudar se formos solicitados", afirmou Sobel.
O petróleo é mais um item da agenda energética entre Brasil e Estados Unidos. Os dois países possuem uma cooperação estreita em combustíveis renováveis, que foi recentemente abalada pela polêmica mundial em torno do tema. Especialistas responsabilizaram o etanol pela alta mundial do preço dos alimentos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva argumentou que é preciso diferenciar o etanol americano de milho - cuja produção subsidiada impulsiona as cotações dos grãos -, do etanol brasileiro de cana.
O presidente da União da Indústria Canavieira de São Paulo (Unica), Marcos Jank, saiu em defesa ontem dos americanos. Ele disse que os Estados Unidos são o "maior aliado do Brasil" e foi o único país que propôs uma parceria importante. Os usineiros brasileiros precisam do apoio dos americanos para consolidar um mercado global de etanol e impulsionar as exportações.
Um dos maiores especialistas em livre comércio do país, Jank defendeu os subsídios americanos ao milho e atacou apenas a tarifa de importação cobrada pelo país contra o etanol brasileiro . "Temos que reconhecer que os EUA não podem fazer progressos ambiciosos sem subsídios domésticos", disse, recordando que o Brasil também utilizou apoio governamental na época do Pró-Álcool. O CEO da Brenco e ex-presidente da Petrobras, Henri Philippe Reichstul, foi menos otimista. Ele classificou a relação entre Brasil e EUA no etanol como "tênue do ponto de vista do comércio".
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