A Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), associação da alemã ThyssenKrupp com a Vale, que acaba de inaugurar em Itaguaí (RJ) uma usina com capacidade para 5 milhões de toneladas de placas de aço por ano, está contratando pessoal em fase de formação e treinando diretamente essa mão de obra para moldá-la a seu feitio. O treinamento é feito em parceria com o Senai-RJ, dentro da própria empresa, e utilizando profissionais aposentados que trabalhavam em cargos-chave em outras grandes siderúrgicas do país.
A Votorantim Siderurgia, com duas unidades em Barra Mansa e Resende, sul do Estado, a segunda inaugurada no ano passado, também está antecipando contratações e treinando pessoal em parceria com o Senai. As duas empresas têm encontrado pessoal no mercado via seus mecanismos de busca, mas encontram dificuldade na hora de selecionar aqueles com o perfil adequado às suas atividades.
"Você tem hoje uma população considerável de formados, mas é preciso garimpar porque muitos estão fora das suas áreas profissionais", afirma Valdir Monteiro, diretor de Recursos Humanos da siderúrgica. A partir dessa constatação, Monteiro disse que a CSA optou por "abordar de vários ângulos" a formação da sua equipe de 2.450 empregados diretos (a usina tem mais 1.300 trabalhadores fixos de parceiros da CSA). "O ponto é a capacitação. O número de currículos é grande, mas quando se busca a capacitação (adequada à empresa), você enfrenta problema", afirma Roberto Cláudio, gerente de Desenvolvimento Humano e Organizacional da Votorantim Siderurgia na região Sul Fluminense.
Uma das abordagens da CSA foi contratar cerca de 120 profissionais que foram aposentados relativamente jovens em programas de demissão voluntária de outras usinas e que ainda queriam trabalhar. "É gente de São Paulo, da Bahia e de outros Estados com disposição para pegar uma siderúrgica do zero e treinar o pessoal", conta Monteiro. Esses profissionais foram alocados em cargos de comando para que possam repassar seus conhecimentos, e vão trabalhar pelo menos de três a quatro anos, avalia.
Para Monteiro, o caminho correto em termos de recursos humanos é investir "a la carte, de acordo com seu negócio". Um dos caminhos que a CSA encontrou para contratar pessoal sob medida foi uma parceria com o Senai-RJ para formar 500 novos profissionais de nível técnico para sua equipe.
Após um intercâmbio entre o Senai e a ThyssenKrupp alemã foi montado um curso básico, de dois a quatro meses, sobre o que é siderurgia. Apareceram 8.390 candidatos, dos quais foram selecionados 960 para fazer o treinamento. Desses, 288 já foram contratados pela CSA e 560 seguem treinando.
De acordo com Allain José Fonseca, coordenador de Projetos Educacionais do Senai-RJ, há um movimento crescente de busca pelos cursos no Estado, além do atendimento específico a algumas empresas. Das 138 mil pessoas capacitadas em 2008, houve uma queda para 112 mil em 2009. Neste ano devem ser treinados 120 mil.
Diante dos avanços tecnológicos e das novas demandas, os cursos no Senai-RJ foram aperfeiçoados, inclusive com mais horas/aulas. A instituição refez sua grade de cursos, criando, segundo Fonseca, 156 novos títulos de cursos de formação, 400 cursos de especialização e 21 cursos de nível médio. Surgiram cursos novos, como técnico em logística, técnico em automação industrial, técnico em petróleo e gás, técnico em comunicação visual, entre outros.
Segundo Luis Arruda, gerente de Projetos em Educação do Senai-RJ, há hoje uma defasagem no mercado: as instituições de ensino técnico voltadas para um mercado mais amplo e as empresas buscando "um algo mais", a tal formação "a la carte" citada pelo diretor da CSA. Surge daí a aproximação entre instituições e empresas para propiciar essa sintonia fina.