DCI
Essa é a afirmação da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), cujas associadas somam 40% da demanda brasileira de energia térmica.
O custo do gás natural brasileiro tem prejudicado a expansão dos investimentos no País entre as empresas energointesivas (de alto consumo energético). Essa é a afirmação da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), cujas associadas somam 40% da demanda brasileira de energia térmica. Segundo a entidade, o preço do insumo para a indústria nacional é em média 100% mais elevado que na maior parte dos países. Um reflexo desse fenômeno brasileiro é que multinacionais têm dificuldade de aprovar novos investimentos no País, justificando essa decisão no alto custo energético, o que reduz a competitividade do produto local.
Uma dessas empresas é a do setor de vidros Owens-Illinois (O-I), que está presente em 38 países. O diretor de Procurement para a América Latina, Tomas Vio, confirma que em relação a países como Colômbia, Peru, Equador e Argentina, o custo do gás natural nacional é o dobro do que a empresa paga nos países vizinhos. "Estamos pagando o preço do gás industrial próximo a US$ 11 por milhão de BTUs. Na nossa análise, dentre os 38 países nos quais atuamos é que esse valor só é mais baixo do que no Japão", afirmou Vio.
Segundo as contas do diretor da O-I, o gás natural representa cerca de 20% do custo total da produção da companhia. Na comparação com as unidades que a empresa possui no continente, essa participação do insumo no custo produtivo não passa de 13%.
"Como temos capacidade ociosa em outros países na América Latina, passamos a importar garrafas a um preço igual porque fica difícil justificar um investimentos em expansão no Brasil, em decorrência do preço do fator energético, o que acaba gerando atrasos nos investimentos aqui", revelou o diretor.
Além desse atraso nos aportes, a Abrace cita também a transferência de investimentos para expansão de produção, como as feitas recentemente pela Gerdau, Votorantim Cimentos e Vale, cada uma em um segmento diferente em função do custo do insumo.
Para o presidente-executivo da Abrace, Ricardo Lima, exemplos como o da Gerdau que recorreu ao Gás Natural Liquefeito (GNL) comprado na República Dominicana a um valor 30% mais baixo que o preço pago pelo similar encanado no Brasil é um ponto que acaba sendo crucial no destino de investimentos por empresas que atuam na base da cadeia produtiva, caso da siderurgia, mineração e de vidros.
"Na hora dessas grandes empresas tomarem a decisão de realizar investimentos para ampliar a produção, os recursos que poderiam aplicados no Brasil são direcionados para outros países", sentenciou Lima que citou a saída da Vale do negócio alumínio no Brasil e da Votorantim, que está fazendo aço e cimento no exterior. "O fator custo começa a tirar nossa indústria de base. O que estamos defendendo não são preços mais baixos para a industria, mas a sobrevivência e a continuidade do processo industrial brasileiro".
Lucien Belmonte, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria do Vidro (Abividro), alerta que esse alto custo para as empresas atinge a competitividade da indústria de base, o que é preocupante pois pode afetar toda a cadeia produtiva. Segundo Lima, da Abrace, essa indústria de base substitui US$ 150 bilhões em importações por ano.
Alvo
Toda essa artilharia do setor industrial tem um alvo em comum, a Petrobras, que detém na prática o monopólio do gás no Brasil. Segundo a Abrace, após a mudança de metodologia no cálculo para a formação do preço do gás natural, determinado pela estatal, a empresa acumulou um faturamento adicional de R$ 1,6 bilhão. Desde 2008 os contratos para o fornecimento passaram a contar com duas parcelas a Fixa (transporte) e a Variável (gás).
O problema todo aconteceu na parcela de transporte que era calculada pela portaria 45/2002 da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A partir da assinatura de novos contratos, a Petrobras estabeleceu o que chamou de Tarifa Postal e elevou a Parcela Fixa muito acima do que era praticado.
Nas contas da Abrace, para o segundo trimestre deste ano, a alteração culminou em aumentos da Parcela Fixa em até 677% para os consumidores de Sergipe. Já no maior mercado consumidor do País, São Paulo, essa alta ultrapassou 250% ante à tarifa calculadas pelo método anterior. Na média nacional, a alta desta parcela é de 413% na comparação entre as duas metodologias.
Procurada pela reportagem para comentar o assunto a Petrobras não respondeu até o fechamento desta edição.
Leia também
>>> Petrobras garante que formação dos preços do gás é transparente
FONTE: DCI
Fale Conosco
22