Jornal DCI - 12/07/2016
Gerações de brasileiros cresceram embaladas pelo orgulho de viver no "país do futuro", sentimento que permeou nossa cultura, desde a década de 1940 e nunca se concretizou. Mas ainda há chances. Nossos valiosos ativos ambientais podem, hoje, nos conceder o passaporte para a nova ordem econômica que deve se estabelecer globalmente sob o impulso do Acordo do Clima: a economia de baixo carbono.
Na linha de frente dos mercados, empresários já sentem a pressão por processos e insumos verdes. Essa parcela do setor produtivo é um interlocutor mais do que desejável para os vários níveis de governo. E iniciativas para esse diálogo começam a despontar.
Um bom exemplo são dois estudos recém-lançados pelo Conselho de Líderes do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que elegeu o tema como prioritário na recuperação da competitividade e retomada do crescimento sustentável.
No Acordo do Clima, de Paris, o Brasil se compromete a ampliar para 23% a participação de fontes renováveis alternativas, como eólica e solar. Assume também que conservará 10% da energiagerada pela promoção do uso eficiente.
É em torno desses dois temas que giram os estudos -- Financiamento à Energia Renovável: Entraves, Desafios e Oportunidades e Consumo Eficiente de Energia Elétrica: Uma Agenda para o Brasil. O 1º aponta soluções para o investimento em fontes renováveis. O 2º simula investimentos e ganhos vindos da conservação.
Vou me deter nesse último. Além de diminuir a necessidade de novas usinas, poupando R$ 58 bilhões líquidos aos cofres públicos, uma economia de 10% de energia tornaria a tarifa 17% mais barata e 10% menos emissões de gases de efeito estufa.
O Brasil possui arcabouço legal em favor da eficiência energética. No entanto, 85% da população não sabem ler o selo Procel e faltam conhecimentos básicos sobre desperdício, como troca de lâmpadas comuns pelas de LED e uso de tomadas inteligentes para não deixar aparelhos em stand by.
Mas é na indústria - principal consumidora desse insumo, com 38% do total - que estão as maiores oportunidades de melhorias. Aproveitá-las traz impacto direto na competitividade, já que o Brasil possui a tarifa mais alta entre os Brics e está entre os países que mais consome energia por dólar de PIB gerado. O superdimensionamento e a idade avançada de máquinas (17 anos, em média, contra 4 anos na Alemanha e 7 nos EUA) geram consumo entre 30% e 40% superior aos mais atuais. Investir em maior eficiência energética entra como "gasto", criando passivos difíceis de justificar a investidores, e faltam linhas de crédito para modernização.
É preciso corrigir distorções, pois investir na competitividade significa manter empregos, conquistar mercados e alinhar o setor produtivo com as melhores práticas mundiais, construindo desde já um futuro mais verde e com maior segurança energética.
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