Artigo Exclusivo

A saúde do trabalhador, por Gabrielle Botelho

Gabrielle Botelho
13/04/2020 15:16
A saúde do trabalhador, por Gabrielle Botelho Imagem: Divulgação Visualizações: 1153 (0) (0) (0) (0)

Nunca antes eu li, ouvi ou escrevi a expressão “sem precedentes”, com tanta frequência, como agora. Essa expressão tem sido amplamente utilizada para descrever a atual crise global, importante ressaltar, a maior crise da nossa história, gerada pela pandemia do Covid-19.

Vivemos atualmente um luto coletivo, onde enfrentamos a morte física de entes queridos e também a morte simbólica da nossa “liberdade”, do nosso “ir e vir” diário, devido ao isolamento, necessário para contermos a disseminação do vírus em nosso país. O Modelo de Kübler-Ross, descreve o processo de luto em cinco fases, pelas quais o indivíduo passa para ser capaz de elaborar sua perda, são elas: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação.

Ainda é possível identificar muitas pessoas em processo de negação (“o Covid-19 é só uma gripe, nada demais”), raiva (“vamos sobreviver ao Covi-19, mas não a quebra da nossa economia”), e negociação (“precisamos retomar nossa vida”). Porém, muitos já apresentam sinais de depressão (manifestada através de relatos de falta de energia e desânimo) e até aceitação (pessoas que se adaptaram ao isolamento e conseguem dar suporte aos demais nesse processo).

Divulgação

Neste cenário de constante e complexa mudança, as organizações têm papel fundamental e podem ajudar, e muito, seus colaboradores no processo de adaptação e aceitação deste novo mundo, imposto a todos. Passada a primeira fase desta crise, a chamada “fase de resposta”, hoje percebemos que as organizações estão tentando se “recuperar”, estabelecendo medidas de redução de custo, para conseguirem “sustentar” e “projetar” um futuro, nesse novo contexto global de negócios.

Durante a fase de resposta, as organizações tiveram que se organizar rapidamente para implementar práticas focadas no bem-estar dos seus colaboradores e na continuidade de seus negócios. A seguir compartilho algumas dessas práticas, que já foram ou ainda estão sendo implementadas.

Implementação de regime de teletrabalho

Na reforma trabalhista (Lei 13.467/2017), uma das principais mudanças foi a regulamentação do teletrabalho (home office) que ainda não tinha sido abordado pela CLT. Apesar da reforma, poucas empresas haviam implementado o novo regime de trabalho de maneira sistemática. Contudo, com a pandemia gerada pelo novo coronavírus, as empresas rapidamente migraram para o regime e desenvolveram cartilhas para orientar seus colaboradores, reforçando os tópicos abaixo:

1 - Explicações sobre o momento atual e a importância de respeitar o isolamento;

2 - Quais cuidados pessoais precisam ser tomados para evitar o contágio do Covid-19;

3 - Conexão remota e atualização de informações junto as empresas;

4 - Atualização sobre as ferramentas tecnológicas, que estão disponíveis e que devem ser usadas durante o período de teletrabalho;

5 - Como organizar um ambiente de trabalho em casa;

6 - Dicas de como trabalhar de maneira eficiente e flexível de casa.

Para muitos colaboradores das chamadas posições de “backoffice”, essa é a primeira vez que operam em regime de teletrabalho. E em adição a isso, trata-se de um momento completamente atípico, pois a família também está em casa, e durante todo o tempo. Desta forma, coordenar o tempo entre o trabalho, casa e familiares pode ser um grande desafio.

Estabelecer uma rotina de trabalho em casa e se comunicar com seu gestor e colegas quais momentos do dia você estará conectado e trabalhando, pode ajudar a reduzir o estresse e a sensação de estar “atrasado” com suas atividades. É importante, ainda, criar o hábito de fazer uma “to do list” sempre que iniciar e terminar o dia de trabalho, assim você conseguirá acompanhar o que ainda precisa ser feito.

Implementação de Guia para liderança

A complexidade, a velocidade e a transformação que as organizações estão enfrentando hoje com a pandemia do Covid-19, nos traz um novo desafio: desenvolver líderes e gerentes capazes de suportar e orientar seus colaboradores durante períodos de crise.

Nesse cenário complexo, as organizações devem ter líderes que consigam liderar em momentos de incertezas, trazendo equilíbrio e segurança para suas equipes. O guia para liderança traz algumas dicas de como gerenciar a equipe em momentos de crise:

1- Alinhar expectativas: Nesse modelo de teletrabalho a gestão passa a ser baseada em indicadores de performance (estabelecendo prazos para as entregas) e não mais em controle de jornada. Dessa forma, uma conversa se faz necessária para alinhar quais são as entregas: diárias, semanais e mensais pelas quais os colaboradores serão avaliados;

2 - Estabelecer processos transparentes: é importante alinhar quais horários do dia serão as reuniões de time e reuniões individuais com seus colaboradores, uma vez que seu funcionário poderá optar por horários alternativos de trabalho. Estabeleça um canal de comunicação aberto e diário.

3 - Construir relações de confiança: Como líder, você desempenha um papel crucial no estabelecimento de uma cultura de confiança em sua equipe: envolvendo cada membro da equipe, reconhecendo as performances individuais, oferecendo crédito as iniciativas pensadas e implementadas por eles e dando espaço para todos “brilharem”.

4 - Fortalecer o espírito da equipe: manter a motivação e um bom astral no time é fundamental, durante períodos de crise. A mensagem que precisa ser passada é de que: estamos todos juntos e que, como uma equipe, com cada um fazendo a sua parte, superaremos qualquer desafio que se apresente.

5 - Demonstrar disponibilidade: trabalhar de casa e em isolamento pode ser um desafio para algumas pessoas. Assim oferecer suporte e estar disponível à sua equipe para conversar sobre preocupações e dificuldades é fundamental.

6 - Adicionar momentos de descontração a rotina de trabalho: lembre sua equipe que é necessário se desconectar do trabalho e se divertir um pouco. Por que não propor um "Happy Hour Virtual" ou um “Café da manhã virtual”, para passar um tempo com a equipe e descontrair?

7 - Cuidar da equipe: Mantenha uma atitude positiva e esteja disponível para conversar, sobre qualquer coisa, sempre que sua equipe precisar. Esteja atento a reações e respostas de cada funcionário, estamos todos sob pressão, interna e externa, e alguns podem estar apresentando dificuldades para lidar com tudo isso.

8 - Cuidar de si mesmo: Ser o suporte para a equipe durante o período de teletrabalho e isolamento é importante, mas lembre-se de respeitar seus próprios limites e cuidar de si mesmo. Identifique alguém para ser a “sua base segura”, uma pessoa na qual você confie, para desafar e ser seu apoio, nesse momento.

Aprendizado à distância e o uso de ferramentas de tecnologia

O aprendizado à distância já vem sendo praticado há bastante tempo, como principal forma de capacitação para o regime offshore, por exemplo, entre outras áreas. Todavia, o que vivemos hoje é totalmente diferente, algumas empresas estão operando cem por cento em regime de teletrabalho. Nesse cenário, o desafio é como estimular o aprendizado, num ambiente de crise e insegurança, no qual as pessoas estão focadas em sua “sobrevivência” no curto prazo.

Nesse cenário o que muitas empresas têm feito é criar conteúdo e compartilhar informações sobre competências e comportamentos que nos ajudam a enfrentar a crise, aguçando a curiosidade do “como fazer”, preparando melhor os colaboradores neste momento.

Há algum tempo especialistas têm discutido sobre o futuro do trabalho e as novas tecnologias que podem ser usadas para estimular o “pensar digital” e o modelo mental de crescimento e desenvolvimento nas organizações. No cenário atual, apesar de toda a preocupação com a segurança de rede, várias empresas adotaram o uso de diversas ferramentas, para encurtar as distâncias e manter as pessoas conectadas, durante o período de teletrabalho e isolamento.

Algumas ferramentas largamente utilizadas são: MS Teams, Zoom, Google Hangouts, entre outras. Entenda por “manter-se conectado”, não só o que diz respeito as atividades de trabalho, mas também, da vida pessoal. Cada vez mais reforçamos a importância de mantermos contato, por telefone, vídeo chamadas ou mensagens, com amigos e familiares, que possam nos ajudar a cuidar da nossa saúde mental e emocional.

Implementação de Guia de saúde mental

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os transtornos mentais acometem 30% dos trabalhadores e são a principal causa de incapacidade nos dias atuais. Atualmente, mais de 300 milhões de pessoas sofrem ao redor do mundo com depressão, considerada pela OMS como o “mal do século”.

No Brasil, cerca de 33% da população apresenta algum problema de saúde mental, entre eles estresse, depressão e ansiedade, por exemplo. Essa é uma das principais causas de solicitação do benefício de auxílio-doença no Brasil.

Cada vez mais temos discutido sobre saúde mental dentro das organizações. Muitas empresas têm adotado campanhas que promovem a conscientização sobre o tema e tratam da prevenção do suicídio (Setembro amarelo, por exemplo). E neste momento, em que estamos passando por longos períodos de isolamento e confinamento, devido a pandemia do Covid-19, a atenção deve ser redobrada. Por isso, a criação de um guia de saúde mental para os colaboradores, que aborda os seguintes tópicos:

Evite excesso de informação: excesso de informações pode causar picos de ansiedade constantes. Escolha um meio de comunicação confiável para se atualizar e busque ler e pesquisar sobre outros assuntos, não apenas a pandemia. Evite repassar informações de fontes que desconhece, evitando assim a propagação do chamado “fake news”;

Mantenha-se em movimento: Atividades físicas, dança, yoga, entre outras, podem ajudar na diminuição do estresse e ansiedade. Não se esqueça de beber muita água e manter uma alimentação saudável. Seu corpo agradece;

Estabeleça uma rotina: Manter uma rotina bem equilibrada é fundamental para a saúde mental. É preciso aprender a encontrar um equilíbrio entre a vida profissional e pessoal mesmo em isolamento, instituindo quando inicia e termina seu dia de trabalho, definindo intervalos para um café, alongamento e até para brincar com seus filhos;

Conecte-se com as pessoas: Estamos em isolamento físico, não social. Mesmo distantes, podemos nos manter próximos das pessoas que são importantes, como familiares e amigos, e que podem nos ajudar a atravessar momentos difíceis. Priorize ligações ou vídeo chamadas, é uma boa oportunidade para receber e distribuir sorrisos;

Pratique empatia: Precisamos, mais do que nunca, nos colocarmos no lugar do outro. Neste momento, idosos, crianças e a população de áreas mais vulneráveis necessitam de atenção especial. Ofereça apoio emocional a eles. Existem vários trabalhos sociais que estão sendo feitos agora e que você pode ajudar, mesmo à distância;

Pense positivamente: procure focar em coisas boas e cultivar pensamentos positivos! O medo e o pânico neste momento pode ser a causa da nossa ansiedade. Existem técnicas que podem ajudar a controlar a ansiedade e a nossa respiração, entre elas, a prática diária de meditação;

Peça ajuda se precisar: lembre-se de que você não está sozinho. Peça ajuda, converse com seu gestor e familiares, diga que está tendo problemas para lidar com o isolamento. Juntos somos mais fortes e conseguiremos enfrentar essa crise.

Em 2019, a OMS em parceria com a Federação Mundial para a Saúde Mental, estabeleceu o guia "40 segundos de ação", que nos lembra da importância da solidariedade e de prestarmos atenção as pessoas ao nosso redor.

Conforme a OMS, em 40 segundos, entre outras coisas, é possível:

   • Conversar com alguém e pergunte como está se sentindo;

   • Transmitir mensagens sobre a importância de cuidarmos da nossa saúde mental e de colaborarmos para a prevenção do suicídio;

   • Comunicar aos colaboradores sobre recursos disponíveis no local de trabalho ou na comunidade para lidar com sofrimento mental;

   • Divulgar as políticas públicas adotadas pelos órgãos governamentais para promover a saúde mental e a prevenção do suicídio.

Estamos diante de uma nova realidade, e o mundo como o conhecíamos antes, não existe mais, está evoluindo. E isso me remete a Teoria de Darwin, na qual ele menciona que: “não é o mais forte que sobrevive, mas o que melhor se adapta”. E para continuarmos evoluindo enquanto espécie, precisamos nos adaptar às novas condições do nosso ambiente.

Eu particularmente tenho uma visão positiva do que estamos vivenciando. Assim como Tedros Adhanom, diretor geral da Organização Mundial de Saúde, que acredita que essa é uma “oportunidade de nos unirmos como humanidade, de trabalharmos, de aprendermos e de crescermos juntos. ”, eu também acredito que sairemos dessa crise, mais fortes como indivíduos, organizações, sociedade, países e melhores enquanto humanidade.

E você? Já parou para refletir como tem sido seus dias e o que tem feito para se cuidar? O cuidar começa em nós mesmos, no cuidado com a nossa alimentação, ouvindo o nosso corpo e identificando nossos medos e angústias. O primeiro passo é sempre o autoconhecimento, para então, podermos cuidar dos demais a nossa volta. Fiquem bem e cuidem-se!

Sobre a autora: Gabrielle Botelho é diretora de RH responsável pela América do Sul, na CGG, onde está liderando diversas iniciativas de RH, visando desenvolver uma cultura organizacional centrada em pessoas, que dá ênfase ao aprendizado contínuo e a inovação, gerando alta performance. Estudou Psicologia na UFRJ, tem MBA em Negócios na FGV-RJ e atualmente cursa Mestrado em Recursos Humanos Estratégicos, na Universidade de Londres. Ela é membro da Sociedade Internacional de RH (SHRM) e da Sociedade Internacional de profissionais mulheres (ISFP). Em 2020, ela será uma das palestrantes no The HR Congress, que é um dos maiores congressos de RH no mundo, junto a grande executivos e estudiosos de RH, como Dave Ulrich.

Obs.: "As opiniões expressas neste artigo não representam necessariamente as opiniões do empregador do autor"

Mais Lidas De Hoje
veja Também
Resultado
Setor de Óleo e Gás lidera distribuição de proventos em ...
10/07/25
Gás Natural
Comgás recebe 41 propostas em chamada pública para aquis...
10/07/25
Pessoas
Lucas Mota de Lima assume gerência executiva da ABPIP
10/07/25
Biometano
Presidente Prudente (SP) inicia obra de R$12 milhões par...
10/07/25
Combustíveis
Preços do diesel, etanol e gasolina seguem tendência de ...
10/07/25
E&P
Hitachi Energy ajudará a Petrobras a analisar alternativ...
10/07/25
Energia Solar
Thopen capta R$ 293 milhões com XP e Kinea e acelera exp...
10/07/25
Exportação
Firjan manifesta grande preocupação com o anúncio de tar...
10/07/25
Debate
IBP debate direitos humanos na cadeia de suprimentos de ...
09/07/25
Macaé Energy
Com mais de dois mil participantes, 2ª edição do Macaé E...
09/07/25
Combustíveis
Vibra amplia presença da gasolina Petrobras Podium e ava...
09/07/25
Biocombustíveis
Brasil: protagonista da transição do transporte internac...
08/07/25
Evento
Nova Era Connections 2025 celebra os 20 anos da Nova Era...
08/07/25
Sustentabilidade
Foresea conquista Selo Social e apresenta resultados exp...
08/07/25
Meio Ambiente
Tecnologia da Unicamp viabiliza produção sustentável de ...
08/07/25
Premiação
Gasmar conquista prêmio nacional com projeto desenvolvid...
08/07/25
Pré-Sal
FPSO Guanabara MV31 lidera produção nacional de petróleo...
08/07/25
Gás Natural
Petrobras vai escoar mais gás do pré-sal para baixar pre...
07/07/25
Sergipe Oil & Gas 2025
Petrobras aposta no Sergipe Oil & Gas e será a patrocina...
07/07/25
Indústria Naval
Estaleiros brasileiros e chineses assinam documento para...
07/07/25
Etanol
Anidro sobe 0,11% e hidratado recua 0,17% na semana
07/07/25
VEJA MAIS
Newsletter TN

Fale Conosco

Utilizamos cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site. Se você continuar a usar este site, assumiremos que você concorda com a nossa política de privacidade, termos de uso e cookies.