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A transição energética do século XXI, por Carlos Correa

Redação TN Petróleo/Assessoria
24/05/2022 17:10
A transição energética do século XXI, por Carlos Correa Visualizações: 1175 (0) (0) (0) (0)

Durante a Revolução Industrial ficou claro que a madeira, principal fonte de geração de energia até então, não era mais adequada como fonte de energia para a produção industrial, que já não atendia aos processos de fundição de ferro. No entanto, sua transição para o carvão foi um esforço de décadas. Da mesma forma, a transição do carvão para o petróleo, que se iniciou nas primeiras décadas do século XX, não foi um processo suave nem rápido e nem parece ter acontecido por conta de apenas um motivo.

O crescimento do petróleo não aconteceu devido a um grande aumento de demanda por produtos oriundos do petróleo, pois havia abundância na oferta de parafinas e olefinas a partir do carvão. Nem parece ter se devido a uma forte pressão de demanda já que, nesse período, o mundo vivia sob os fortes impactos da grande depressão econômica dos anos 1920. Estudiosos do crescimento da indústria petroquímica indicam que os principais fatores que alavancaram o petróleo como nova fonte de geração de energia foram: o desenvolvimento tecnológico que criou o processo de craqueamento térmico do óleo pesado, produzindo gasolina e diesel e a produção em massa de automóveis nos Estados Unidos, puxando a demanda de consumo desses combustíveis.

O rápido crescimento da demanda por gasolina junto com uma oferta grande e barata de olefinas fez com que, no final da segunda grande guerra, sua indústria química mudasse em grande escala para matérias-primas à base de petróleo.  Na Alemanha, essa transição foi adiada por algumas décadas em função de sua economia estar bastante ligada a um regime industrial baseado no carvão, mas seguiu o mesmo caminho, assim como os demais países Europeus. Ou seja, a transição energética nos Estados Unidos e na Europa apresentou uma mesma sequência muito clara: até 1910, o carvão como matéria-prima para geração de energia, havia avançado até dominar todos os sistemas energéticos, incluindo urbano, industrial e de transporte. A partir daí, o petróleo começou a ganhar terreno de forma constante, assumindo o papel de maior fonte de geração de energia e deslocando o carvão para a segunda posição. Esse padrão se repetiu na África onde a participação do carvão na geração de energia entre 1920 e 1970 caiu de 91% para 55%. O mesmo ocorreu na Ásia com queda de 92% para 28%, na Oceania com queda de 92% para 48% e na União Soviética de 83% para 53%. A América Latina, entretanto, não seguiu um caminho de transição energética semelhante.

Em países da América Latina, a transição energética variou em maior grau do que nos Estados Unidos e Europa, mas ocorreu mais cedo e mais rapidamente. Na primeira metade do século XX, a maioria desses países eram importadores de carvão, principalmente de Reino Unido, Estados Unidos e Alemanha. A transição de matéria-prima para geração de energia no Brasil e na Argentina aconteceu de forma relativamente suave à semelhança do ocorrido nos EUA e na Europa, mas com muito mais rapidez: enquanto nos países do hemisfério norte, o consumo de petróleo superou o carvão a partir de 1950, nos países latino-americanos, a supremacia do petróleo já ocorre entre as décadas de 1920 e 1940. No caso da Argentina e da maioria dos países da região, o carvão caiu de um nível de consumo de mais de 90 % para aproximadamente 10,8% em 28 anos enquanto nos EUA, essa mesma transformação levou mais de 70 anos. O Brasil, foi um dos últimos países da América Latina a trocar majoritariamente o carvão pelo petróleo, o que ocorreu em 1940.

Diversos são os motivos que levaram a essas diferenças nos regimes de transição, mas o que a história nos ensina é esses processos são complexos e dependem de muitas variáveis que diferem de região para região. Da mesma forma, espera-se que a transição para um regime de produção de energia baseado em recursos renováveis seja repleta de muitos contratempos e obstáculos, técnica e politicamente.

As diferentes crises ligadas ao petróleo que se sucedem desde 1970, resultaram em grandes flutuações no preço do óleo e especulações sobre sua escassez que estimularam a busca por fontes alternativas de combustível. Mesmo a partir de 2008, com a reversão na tendência de crescimento dos preços do petróleo, e a diminuição das especulações sobre sua escassez, as demandas pela substituição de combustíveis fósseis por fontes limpas e renováveis continuaram estimuladas por pressões sociais e regulatórias que visavam a diminuição da carga de emissão de carbono na atmosfera. O pós-pandemia trouxe aumento da inflação, escassez de produtos, novos aumentos no preço do petróleo e uma guerra entre Rússia e Ucrânia que ameaça alterar o balanço energético na Europa. São variáveis (novas e antigas) que mantém a complexidade e a marcha dessa nova transição energética.

Acima da segurança energética e da segurança alimentar e hídrica estão as mudanças climáticas.

Diversos eventos ocorridos nos últimos anos legitimaram politicamente as mudanças climáticas e sua mitigação, e o mundo finalmente prometeu agir. Vamos ver se dessa vez será verdade…

A bioeconomia contém algumas das respostas aos desafios econômicos gerados pela mitigação das mudanças climáticas, que podem manter o crescimento e o bem-estar social. O desenvolvimento e geração das energias eólica e solar trazem outras repostas que quando combinadas entre si e suportadas por novos desenvolvimentos tecnológicos permitirão o salto para que fontes renováveis desloquem o petróleo e o carvão como principais fontes de geração de energia. Mas da mesma forma que nas transições anteriores, essas fontes continuarão a existir e a serem utilizadas até que suas estruturas econômicas e físicas sejam substituídas. O futuro é complexo e multifacetado. Os problemas começam nas regiões e se estendem ao alcance global. É difícil quantificar qual será o mais difícil dos desafios. No entanto, o crescimento da bioeconomia e das demais econômicas baseadas em fontes renováveis de geração de energia, vão de encontro à realidade atual de economias de escala maciças de combustíveis fósseis e petroquímicas, casadas com gigantescos subsídios ao consumo de combustíveis fósseis. São os modelos do passado casados com a infraestrutura física existente resistindo à transição; da mesma forma que aconteceu com a madeira e com o carvão. E, da mesma forma que aconteceu com eles, a transição virá. Caberá aos formuladores de políticas dar sua contribuição ou esperar serem atropelados pelas mudanças no meio ambiente e no mercado.

Sobre o autor: Carlos Correa é socio da Brainmarket

 

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