Victor Couto Alves
A pandemia do Novo Corona Vírus só escancarou o que por muito tempo já vem sendo falado: vivemos num mundo Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo! De uma semana pra outra, quiça, de um dia pra outro, tudo pode mudar, verdades absolutas já não são tão absolutas assim, sistemas econômicos são colocados em cheque e surgem novas formas de pensar a sociedade, trabalhar, gerenciar empresas, e até países.
Como o professor Marcos Cavalcanti, coordenador do CRIE/UFRJ costuma dizer “precisamos de novos óculos pra enxergar esse novo mundo”, afinal: A maioria das organizações, sejam empresas, países ou instituições, morrem e as pessoas ficam obsoletas não porque elas fazem coisas erradas, mas porque elas continuam fazendo a mesma coisa por muito tempo (Adaptado de Yves Doz)
A palavra de ordem é ADAPTAÇÃO. Parar não é mais uma opção, é preciso continuar seguindo a vida. Assim como quando andamos de bicicleta, precisamos continuar pedalando se não quisermos cair. Thomas Friedman chama essa “habilidade” de “estabilidade dinâmica”. Por sua vez, Astro Teller, ex-CEO do Google X, diz que 90% do aumento da adaptabilidade humana consiste na otimização da aprendizagem. Fazendo um paralelo com nossa vida pessoal e profissional, nada mais é do que o famoso Lifelong Learning ou aprendizado contínuo.
Nesse contexto, Alvin Toffler, escritor e futurista americano tem uma célebre frase que virou um mantra na maioria dos textos e palestras que falam sobre a nova educação: “Os analfabetos no século XXI não serão os que não souberem ler ou escrever, mas os que não souberem aprender, desaprender e reaprender.”
Quando usei essa frase pela primeira vez foi muito mais pelo impacto que ela trazia do que propriamente por conhecimento de causa ou até mesmo compreender como de fato isso era aplicado na prática. Hoje, percebo que existem diversas linhas que podem explicá-la e o objetivo deste artigo é dar minha visão sobre a mesma.
Durante meus estudos sobre o papel da Gestão do Conhecimento Pessoal no aprendizado contínuo e sucesso profissional, conheci o Conectivismo, teoria de aprendizagem criada pelo George Siemens e aperfeiçoada pelo Stephen Downes para tentar explicar a aprendizagem nessa era digital.
Adaptado de Knowing Knowledge, Siemens (2006)
Para Siemens (2006), a aprendizagem vai muito além do que a aquisição do conhecimento. Ela é um processo dividido em várias etapas e sua preparação passa por exploração, tomada de decisão, seleção e desseleção, antes da experiência da aprendizagem e aquisição do conhecimento propriamente dito. Siemens (2006), conclui que aprendizagem é um “processo de criação de redes” no quais os nós podem ser externos, formado por pessoas, organizações, sites, bibliotecas, livros, bancos de dado ou qualquer outra fonte de informação, e interna, quando as conexões ocorrem dentro das nossas mentes. Redes de Aprendizagem, portanto, podem ser percebidas como estruturas externas que são criadas de forma a nos manter atualizados e continuamente estarmos conectados com novos conhecimentos e experiências. E também como estruturas internas que são criadas e existem em nossas mentes para conectar e criar padrões de entendimento.
De forma similar ao conceito proposto por George Siemens, Paul Jun, em seu livro “Connect the Dots”, diz que aprender é um ato de conectar os pontos. Ao ler, ouvir entrevistas, palestras, podcasts, tomar notas, construir sua base de conhecimento e colocar o conhecimento em prática, seja escrevendo sobre ele ou executando algo, na verdade estamos conectando pontos, que por sua vez geram mais conexões e nos fazem aprender ainda mais. Quanto mais diversos esses pontos, mais rico será a aprendizagem. E cada um tem sua forma particular de conectar seus pontos, o que contribui ainda mais para diversidade de opiniões, interpretações e visões sobre um mesmo assunto por exemplo.
Partindo destes pressupostos, o ato de aprender, desaprender e reaprender seria nada mais do que a capacidade que temos de criar, acessar e nutrir os nós e pontos dessas redes quando necessário, ou seja: o ato de aprender, consiste em acessar o conhecimento nos repositórios eletrônicos e/ou conexões que temos e também conectar os pontos; para desaprender, é importante estar conectado com uma diversidade de fontes, que muitas vezes contrapõem-se entre si, o que contribui para rapidamente mudar de opinião ou conhecimento, se necessário, ou também pode-se simplesmente deixar de acessar um conhecimento ou aprendizado, e/ou retorna-lo para um repositório, ou então não nutrir um conhecimento pré-existente; e para reaprender, consiste em acessar novamente essa base de conhecimento e/ou conexões e conectar novamente um ponto, ao atualizar um texto que você escreveu no passado ou experimentar novamente algo, por exemplo.
Por isso, nos dias atuais, com as infinitas conexões que podemos ter, notícias falsas sendo distribuídas sem nenhuma análise crítica, e a vida do conhecimento tão curta, “saber o que” e “saber como” já não representa uma vantagem competitiva tão grande. O que importa é saber onde encontrar essa informação e conhecimento útil, na hora certa quando necessário.
Adaptado de Knowing Knowledge, Siemens (2006)
Para sistematizar essa abordagem, portanto, faz-se necessário um modelo e/ou estrutura que auxilie o indivíduo na identificação e mapeamento desses conhecimentos e redes necessárias para o desenvolvimento do indivíduo. Na minha visão, a Gestão do Conhecimento Pessoal e o Modelo de Negócios Pessoal são o pontos de partida pra isso. Para entender como eles funcionam, falo melhor sobre a primeira neste artigo e sobre o segundo, neste.
Sobre o autor: Victor Couto Alves é graduado em Engenharia de Produção e Tecnologia em Petróleo e Gás, com especialização em Gestão do Conhecimento pela Coppe/UFRJ e Gestão Estratégica de Pessoas pela HSM University. Conta com 10 anos de experiência, em empresas nacionais e multinacionais no setor de petróleo e gás, tendo atuado na área operacional offshore, na coordenação de operações e contratos e atualmente atua como Especialista em Gestão do Conhecimento na TechnipFMC. Fora das plataformas e dos escritórios, também foi e é atuante no desenvolvimento da indústria de óleo e gás, onde foi Coordenador do Comitê Jovem do IBP de 2013 à 2016 e desde 2016 é diretor da SPE Seção Brasil. No tempo livre, procura servir a comunidade como voluntário em Projetos Sociais relacionados à educação e orientação de carreira, tendo criado seu pioneiro blog de orientação de carreira, chamado TecnoPeG, no qual sempre buscou compartilhar conhecimento e informações acerca da indústria.
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