Redação TN Petróleo/Assessoria
lA indústria do petróleo encontrará novos e lucrativos negócios para seus ramos operacionais de produção de óleo e gás no CCS – Carbon Capture and Storage, ou como é conhecido em português, o Sequestro Geológico de Carbono. Considerado a mais eficiente forma de sequestro de carbono, o CCS exige a separação de CO2 de efluentes industriais, ou do ar; seu transporte em dutos ou navios; a perfuração de poços para reinjeção em aquíferos salinos ou reservatórios depletados; a gestão do reservatório de armazenamento; e a garantia perene de estanqueidade, que tem como pontos de atenção a integridade dos poços e a integridade mecânica, sob alta pressão, das rochas capeadoras, falhas e selos geológicos. Das 5 funções citadas, a indústria do petróleo é a única que domina as 3 últimas.
As grandes operadoras perceberam isso. Além da melhora da sua imagem, as operadoras podem receber créditos de carbono pelos serviços de captura e armazenagem de CO2. A tonelada de CO2 vale hoje cerca de US$ 90 nos mercados regulados de créditos de carbono na Europa. Tomemos como exemplo a OGCI (Oil and Gas Climate Initiative) um consórcio de 12 grandes operadoras, que conta com a participação da Petrobras, e que juntas são responsáveis por 1/3 da produção de petróleo mundial. A OGCI anuncia o planejamento, projeto e construção de 11 grandes hubs de carbono, que são sistemas complexos de captura junto a fontes industriais, transporte e armazenagem geológica. Cinco deles estão com cronograma mais avançado, mas o mais impressionante é o hub Northern Lights/Longship, na Noruega. Com início previsto para 2024 e projetando injetar 5 milhões de toneladas de carbono por ano, neste hub o carbono é capturado em vários portos da Europa e transportado num navio criogênico para a costa da Noruega, onde é comprimido para injeção em reservatório offshore.
E o Brasil, como está nisso?
A Petrobras já é uma das líderes, na captura do carbono e na sua reinjeção. O CO2 provém do gás natural dos campos do Pré-Sal, principalmente dos campos de Tupi, Búzios e Mero/Libra. O gás natural, rico em CO2, é purificado e comprimido para comercialização, enquanto o CO2 é separado, comprimido e reinjetado. Em Mero o gás natural é reinjetado in natura, devido ao seu alto teor de CO2. A Petrobras injeta estes gasses num esquema WAG, (Water Alternating Gas), um método de recuperação terciária (EOR) que propicia um aumento do fator de recuperação desses campos. A Petrobras já injetou um volume acumulado de 40,8 milhões de toneladas de carbono, sendo 10 milhões em 2022.
Além disso, o Diretor de Sustentabilidade da Petrobras, Maurício Tolmasquim, anunciou recentemente que a empresa está projetando um piloto de sequestro de carbono no Estado do Rio de Janeiro. O CO2, capturado na UPGN de Cabiúnas, será injetado no aquífero salino São Tomé, situado em área marítima, na Bacia de Campos. Caso tenha sucesso neste piloto, a Petrobras poderá transformá-lo num hub, com captura na REDUC e em outras fontes industriais do estado.
Finalmente, a empresa FS Bioenergia está, em consórcio com a SLB projetando capturar CO2 de suas plantas de produção de etanol de milho, em Mato Grosso, para sequestro em reservatório geológico.
Estas iniciativas serão multiplicadas assim que o país contar com um arcabouço legal que regule as atividades no Brasil, o que poderá a levar à constituição de um mercado de carbono regulado. O Governo Federal promete evoluir neste sentido, ordenando várias iniciativas que tramitam no legislativo, o que deverá ocorrer até 2025, ano em que o Brasil recebe a conferência climática da ONU COP 30, a realizar-se em Belém do Pará.
Fontes:
Sobre o autor: Farid Shecaira é mestre e doutor em engenharia de petróleo. Trabalhou na Petrobras de 1980 a 2021, onde ocupou inúmeros cargos técnicos e gerenciais. Atualmente é co-diretor da empresa de Ensino e Consultoria WISENERGY e Consultor em Engenharia de Petróleo do Laboratório de Inteligência Computacional da PUC-Rio.
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