Artigo

Liderança feminina na tecnologia: uma questão que permanece urgente, por Isadora Kimura

Redação TN Petróleo/Assessoria
08/03/2024 11:40
Liderança feminina na tecnologia: uma questão que permanece urgente, por Isadora Kimura Imagem: Divulgação Visualizações: 2151 (0) (0) (0) (0)

Entre avanços e dificuldades, ainda temos muito o que refletir sobre os caminhos e desafios da liderança feminina no mercado de trabalho, sobretudo no setor de tecnologia. Uma pesquisa feita pela ManpowerGroup mostra que, no Brasil, pouco mais de um terço das empresas (37%) promovem programas internos de desenvolvimento feminino.

Em Tecnologia, a disparidade de gêneros é ainda maior. De acordo com a Pesquisa de Remuneração Total, realizada pela consultoria Mercer, no nível executivo de empresas de alta tecnologia em todo o mundo, a disparidade salarial entre os gêneros chega a 35%. Como fundadora e líder de uma startup no Brasil, acredito que a minha própria experiência pessoal seja similar a de tantas mulheres com os mesmos dilemas, por isso exponho algumas reflexões dessa jornada.

Quando cheguei ao ITA - Instituto Tecnológico da Aeronáutica para o meu primeiro dia de aula no curso de Engenharia, me deparei com poucas pares: nós, mulheres, representávamos menos de 8% da turma. Como consequência, éramos um tanto invisíveis e estereotipadas. Não percebi o tamanho do desafio logo de cara, mas o fato é que esse ambiente predominantemente masculino influenciou meu comportamento durante anos, permeando também as minhas primeiras experiências profissionais com comportamentos considerados tipicamente "masculinos", como assertividade, confiança, ambição e racionalidade. À época, parecia ser a única maneira possível de ser ouvida, respeitada e pertencente ao grupo. Com o tempo e a exposição a referências mais diversas, pude me reconectar com uma identidade profissional mais plural e genuína, exercendo sem medo uma liderança que também fortalece outras características, como empatia, emotividade e intuição.

Já se sabe que líderes mulheres costumam ter mais soft skills – a famosa inteligência emocional –, com características como empatia e resiliência mais afloradas. Para cargos de liderança, essas habilidades são até mais importantes que as competências técnicas. E fazem toda a diferença na hora de navegar por situações críticas. Nós, mulheres, temos uma facilidade maior de engajar pessoas em prol de uma causa ou propósito. E isso não é diferente para as empresas de tecnologia, onde a esmagadora maioria da liderança ainda é composta por homens.

Já existem evidências de que o comando feminino tem a capacidade de aumentar a eficiência em uma organização. Mulheres pontuam melhor que homens em 11 de 12 habilidades socioemocionais-chave, como profissionalismo, colaboração, comunicação e pensamento crítico, de acordo com o Hay Group. Sabe-se também que mulheres em cargos de liderança mostraram mais eficiência durante a crise sanitária mundial.

Entretanto, não podemos nos enganar. Mesmo com muitos avanços, as mulheres continuam precisando fazer mais e melhor para conseguirem as mesmas oportunidades que seus pares homens. Na Tecnologia, em que ainda predomina uma cultura do “Clube do Bolinha”, existem conversas que não casam e eventos de networking pensados para o público masculino, do tipo "Poker Night com Charuto",  onde as mulheres são desconvidadas ou desencorajadas a participar. Para completar, a maioria dos gestores no mercado são homens, com viés de promoção e mentoria para os seus pares. Isso nos leva a uma falta de modelos de comportamento femininos, com líderes mulheres que possam inspirar e mentorear as demais. 

Por que o setor de tecnologia deveria agilizar o equilíbrio entre os gêneros? 

Existe um argumento incontestável para que o mundo das empresas de tecnologia invistam e agilizem a maior equidade entre os gêneros nas altas posições: o fator econômico. Com menos vieses de contratação e promoção para o gênero masculino, mais mulheres cis e trans com altíssimo potencial e performance poderão se destacar, alçando as empresas a melhores resultados. Um estudo da consultoria Mckinsey aponta que empresas que disseminam diversidade e inclusão têm lucros 35% maiores do que as demais. Para além do valor social, cultural e humano, a promoção da diversidade - e da liderança feminina - fomenta o engajamento e a maior realização de cada pessoa no ambiente de trabalho.

É também inegável que times mais diversos servem melhor às necessidades complexas da nossa sociedade. No Brasil, bons exemplos de novas empresas de tecnologia com as mulheres à frente são justamente focadas na saúde feminina, como Theia, Oya Care e Bloom Famílias. Elas movimentam milhões e só existem por conta da criação de times diversos, que conhecem essa temática a fundo.

Outra questão que precisa ser discutida é a diversidade de pensamento e de experiências que a visão da liderança feminina traz ao setor. Novas perspectivas são o combustível de novas soluções, e é disso que as empresas de tecnologia precisam. Gosto muito do livro “Mulheres Invisíveis”, de Caroline Criado Perez (Intrínseca, 2022). Para a autora, a mulher no comando produz um impacto sistêmico na estratégia e costuma trazer uma visão de mundo mais abrangente, ajudando a reduzir o viés de gênero em toda a cadeia.

Nos últimos 50 anos, houve um bom progresso, mas a caminhada é longa. Nos mercados mais maduros, como os dos Estados Unidos, a liderança feminina em tecnologia representa 20% do total, de acordo com o Women in Tech C-Level Network. Pude vivenciar essa realidade nos anos em que trabalhei no Vale do Silício, onde convivi com gestoras e colegas inspiradoras. Hoje, na Nilo, estamos investindo em uma cultura corporativa diferenciada e um time diverso, a fim de contribuirmos com a nossa parte.

As empresas de tecnologia têm um papel fundamental de identificar e ampliar o número de mulheres no comando. Entre as principais ações que eu indico, estão: investir em vagas afirmativas femininas, fazer parceria com organizações que treinam e empoderam esse público, criar processos de onboarding e mentoria que direcionem esses talentos para o sucesso e revisar os critérios de avaliação interna e de processos seletivos, para garantir uma progressão de carreira adequada.

Sobre a autora: Isadora Kimura é fundadora e CEO da healthtech Nilo, é formada em Engenharia Mecânica Aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA e tem MBA e mestrado em Educação pela Universidade de Stanford (USA).

Mais Lidas De Hoje
veja Também
PPSA
União teve direito a 131 mil barris de petróleo por dia...
18/04/25
BRANDED CONTENT
O avanço da exploração offshore no Brasil e os bastidore...
17/04/25
Diesel
A partir de amanhã (18/04), Petrobras ajusta preços de d...
17/04/25
Internacional
Por ordem do governo dos EUA, Equinor suspende atividade...
17/04/25
Combustíveis
ANP esclarece sobre normas para exibição de preços de co...
17/04/25
Petrobras
RPBC comemora conquista do selo verde de Cubatão
17/04/25
Parceria
Petrobras e Coppe promovem parceria para reduzir perdas ...
16/04/25
Logística
Omni Táxi Aéreo é contemplada pela MAERSK para operação ...
16/04/25
Rio de Janeiro
Incertezas fazem Firjan projetar crescimento da economia...
16/04/25
Amazonas
Fundo de US$ 20 bi geraria royalties verdes suficientes ...
16/04/25
ANP
Laboratórios podem se inscrever até 23/04 no Programa de...
16/04/25
Refino
RPBC comemora 70 anos, com 11% da produção de derivados ...
16/04/25
Petrobras
US$ 1,7 bilhão serão investidos na destinação sustentáve...
16/04/25
Evento
Naturgy debate papel do gás natural na transição energét...
16/04/25
Combustíveis
ICONIC Base Oil Solutions é a nova distribuidora da Chev...
15/04/25
OTC HOUSTON 2025
Chris Lemons, mergulhador comercial de renome mundial, s...
15/04/25
SPE
Sustentabilidade da indústria de óleo e gás
15/04/25
Oportunidade
Omni Táxi Aéreo abre inscrições para Programa de Estágio...
14/04/25
Parceria
Petrobras e Coppe assinam termo de parceria para reduzir...
14/04/25
Eficiência Energética
Foresea desenvolve tecnologias para redução de emissões ...
14/04/25
Oferta Permanente
ANP contempla Margem Equatorial nos Blocos do 5º Ciclo d...
14/04/25
VEJA MAIS
Newsletter TN

Fale Conosco

Utilizamos cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site. Se você continuar a usar este site, assumiremos que você concorda com a nossa política de privacidade, termos de uso e cookies.

22