PD&I

Descoberta pode contribuir para aumentar e baratear a produção do etanol de segunda geração

Redação TN Petróleo/Assessoria FAPESP
20/03/2023 08:59
Descoberta pode contribuir para aumentar e baratear a produção do etanol de segunda geração Imagem: Divulgação Visualizações: 1756 (0) (0) (0) (0)

Pesquisadores do Laboratório de Bioquímica de Plantas da Universidade Estadual de Maringá (Bioplan-UEM), no Paraná, e do Laboratório de Fisiologia Ecológica da Universidade de São Paulo (Lafieco-USP) conseguiram aumentar em até 120% a sacarificação do bagaço da cana-de-açúcar ao longo de 12 meses. No caso da soja, ocorreu um acréscimo de 36% em 90 dias, enquanto a sacarificação do capim braquiária (usado em pastagens) cresceu 21% em 40 dias.

Isso ocorreu graças à aplicação de compostos naturais às plantas -- um deles à base de ácido metilenodioxicinâmico (MDCA); outro, com ácido piperolínico (PIP); e um terceiro que leva daidzina (DZN). "Desenvolvemos três compostos diferentes, cada um com características específicas, que foram aplicados individualmente à cana-de-açúcar, à soja e à braquiária", explica o biólogo Wanderley Dantas dos Santos (foto), coordenador do Bioplan-UEM.

Segundo Santos, MDCA, PIP e DZN são inibidores da lignina, molécula que confere rigidez à parede celular da planta. "De forma geral, os compostos que desenvolvemos alteram o metabolismo da lignina. Isso facilita o acesso à parede celular da planta, onde está localizada a celulose. Assim, é possível produzir mais açúcar, mais carboidrato."

O experimento está relatado em artigo publicado no periódico Biomass and Bioenergy. O projeto é apoiado pelo Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído por FAPESP e Shell na Escola Politécnica (Poli-USP).

Aumento de produção

No caso da cana-de-açúcar, a descoberta pode contribuir para aumentar e baratear a produção do chamado etanol de segunda geração, feito a partir do resíduo da biomassa (bagaço) da planta. O grande produtor desse tipo de álcool, que corresponde a 1,5% da produção nacional, é a Raízen, joint venture entre Cosan e Shell, situada no interior de São Paulo. "Nossa ideia é gerar uma cana-de-açúcar mais fácil de sacarificar, com a extração de açúcares das celuloses", diz Santos.

Segundo Marcos Buckeridge, coordenador do Lafieco e pesquisador do RCGI, atualmente a indústria tem um gasto financeiro alto para realizar o chamado pré-tratamento, quando se retira a lignina para tornar os carboidratos acessíveis às enzimas que digerem esses polissacarídeos e produzem açúcares que podem ser fermentados para produzir o etanol de segunda geração. "Isso impacta o custo de produção em 30%", informa Buckeridge.

Com a aplicação dos compostos desenvolvidos pelos pesquisadores seria possível aproveitar melhor a biomassa da cana-de-açúcar. "Com a modificação na lignina, o bagaço se torna mais fácil de ser digerido pelas enzimas. Ou seja, será necessário utilizar menos enzimas no decorrer do processo. As enzimas correspondem à parte mais cara da produção do etanol de segunda geração", prossegue Buckeridge. Hoje boa parte desse bagaço é descartada pela indústria. "A utilização do bagaço poderia aumentar em até 40% a produção de etanol no Brasil."

Os pesquisadores também testaram os compostos na braquiária, utilizada para alimentação do gado. "Na digestão, o animal consegue extrair mais carboidrato desse capim", relata Santos. "Como o rebanho vai ficar nutrido com menor quantidade de capim, será possível colocar mais gado por metro quadrado. Isso ajudaria, por exemplo, a evitar o desmatamento para a produção de proteína animal."

A soja com lignina modificada também poderia servir de ração para o rebanho. "Hoje, o gado costuma ser alimentado com milho e um complemento proteico. A soja poderia substituir parcialmente esse complemento proteico. Com a aplicação dos compostos, ela se torna mais palatável em termos nutricionais e deixaria o animal satisfeito com uma porção menor de alimento", pontua o biólogo.

O artigo Natural lignin modulators improve lignocellulose saccharification of field-grown sugarcane, soybean, and brachiaria pode ser encontrado aqui.
 

*Com informações do RCGI, um Centro de Pesquisa em Engenharia da FAPESP.

Mais Lidas De Hoje
veja Também
Gás Natural
SCGÁS divulga novos projetos aprovados por meio de leis ...
04/07/25
Rio Grande do Sul
Sulgás defende mobilização de deputados gaúchos para ass...
04/07/25
Biodiesel
ANP recebe doação de equipamentos para detectar teor de ...
04/07/25
Meio Ambiente
Biometano emite até 2,5 vezes menos CO₂ do que eletricid...
04/07/25
Fusões e Aquisições
Petróleo lidera fusões e aquisições globais; especialist...
04/07/25
Investimentos
Petrobras irá investir R$ 33 bilhões em projetos de refi...
04/07/25
Sergipe Oil & Gas 2025
Petrobras aposta no Sergipe Oil & Gas e será a patrocina...
04/07/25
Pessoas
Julia Cruz é a nova secretária de Economia Verde, Descar...
03/07/25
Gás Natural
TBG lança produto de curto prazo flexível anual
03/07/25
Resultado
Grupo Potencial cresce 70% em vendas de Arla 32 e planej...
03/07/25
Petroquímica
Vibra entra no mercado de óleos básicos para atender dem...
03/07/25
Biocombustíveis
Brasil pode liderar descarbonização do transporte intern...
03/07/25
Energia Elétrica
PMEs: sete dicas para aderir ao mercado livre de energia
03/07/25
Oportunidade
Vibra adere ao Movimento pela Equidade Racial
03/07/25
Pré-Sal
Oil States assina novos contratos com a Subsea7
02/07/25
Sustentabilidade
Congresso Sustentável CEBDS 2025 reúne 300 pessoas em Belém
02/07/25
Energia Elétrica
Com bandeira vermelha em vigor desde junho, energia reno...
02/07/25
Amazonas
Super Terminais e Governo do Amazonas anunciam primeira ...
02/07/25
Transição Energética
CCEE reforça protagonismo na transição energética durant...
02/07/25
Biodiesel
Indústria doa equipamentos para fortalecer fiscalização ...
02/07/25
Macaé Energy
Licença Prévia do projeto Raia é celebrada na abertura d...
02/07/25
VEJA MAIS
Newsletter TN

Fale Conosco

Utilizamos cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site. Se você continuar a usar este site, assumiremos que você concorda com a nossa política de privacidade, termos de uso e cookies.