Valor Econômico
Novas tecnologias estão abrindo a possibilidade de exploração de campos de gás gigantes nos EUA, mas estão para criar batalhas também gigantes com os ambientalistas.
O maior campo fica debaixo das montanhas Apalaches. Geólogos chamam o Marcellus de campo de gás “super gigante”. O geólogo de Universidade da Pensilvânia Terry Engelder acredita que este campo poderá abastecer as necessidades de gás natural dos Estados Unidos por 14 anos.
Quando se espalhou no ano passado a notícia de que um campo que se estende do sul do Estado de Nova York até a Virgínia Ocidental promete produzir o equivalente a US$ 1 trilhão em gás, transformando proprietários de terras locais em milionários, soaram os alarmes ambientalistas.
Poderiam os poços de gás danificar os poços de água? Poderiam os produtos químicos envenenar o lençol freático? Poderiam as lendárias correntes de trutas ressecar? Poderiam os imaculados reservatórios no norte do Estado que abastecem a cidade de Nova York com água potável ser contaminados?
“Essa perfuração de poços de gás poderia transformar a bacia hidrográfica de mata densa do norte de Delaware de um ambiente natural selvagem de cenários deslumbrantes em uma paisagem industrial horrível, que será mudada para sempre”, disse Tracy Carluccio, da Delaware Riverkeeper, uma organização de proteção ao ambiente. Ela prefere que antes disso seja decretada uma moratória nas perfurações, para permitir a realização de um levantamento das áreas naturais.
Os protestos em Nova York foram tão estridentes que o governador David Paterson determinou que o Departamento de Proteção Ambiental (DEC, na sigla em inglês) atualizasse as suas diretrizes reguladoras, que regem as perfurações de gás e petróleo, visando refletir a tecnologia avançada de perfuração, que usa milhões de litros de água e que representa desafios de gestão de resíduos.
Agora, apesar do aparecimento de novas plataformas de perfuração na Pensilvânia e na Virgínia Ocidental, o desenvolvimento do Marcellus em Nova York está suspenso até o próximo ano, enquanto o DEC realiza audiências e elabora regulamentos.
As empresas de prospecção de gás dizem que os alarmes ambientalistas são exagerados e que Nova York poderia perder capital de investimento e postos de trabalho extremamente necessários se o Estado adotar uma postura regulatória autoritária.
“Trata-se de operações cirúrgicas que utilizam a mais avançada tecnologia de perfuração conhecida”, disse Tom Price Jr., vice-presidente sênior da Chesapeake Energy, perante deputados estaduais em Albany, em audiência recente.
A tecnologia que provocou preocupações envolve perfuração horizontal e fratura hidráulica, também conhecida como “fracking”. Milhares de poços foram perfurados e “frackeados” em Nova York nos últimos 50 anos, disse o comissário Pete Grannis, do DEC de Nova York. Mas o refinamento da tecnologia permite extrair gás de rochas sedimentares ainda mais profundas e densas.
A tecnologia mais recente, conhecida como “slick water fracturing” (fraturamento eficiente de água) usa muito mais água do que os métodos anteriores - até 1 milhão de litros para cada operação de fraturamento, segundo cálculos de Grannis. Esse fato e a proximidade do Marcellus à bacia hidrográfica de Nova York provocaram a análise das normas regulatórias.
As autoridades reguladoras de Nova York e Pensilvânia prometeram transparência total sobre todos os produtos químicos usados na técnica de fraturamento hidráulico, que especialistas do setor dizem não ser prejudiciais. O presidente do conselho de administração e executivo-chefe da Range Resources, John Pinkerton, afirmou que os fluidos usados na técnica não são mais tóxicos do que os que escoam pelas pias dos cabeleireiros.
Roger Willis, dono de uma empresa de fraturamento hidráulico em Meadville, Pensilvânia, afirmou que milhares de trabalhos com essa técnica foram realizados em formações rochosas acima e abaixo do xisto de Marcellus, no Estado de Nova York, sem danos aos aqüíferos.
Willis destacou que os fluidos são isolados das águas subterrâneas em poços revestidos por aço e concreto. O furo do poço chega a profundidades de milhares de metros superiores ao das fontes de água potável, através de inúmeras camadas de rocha, até chegar ao xisto, rico em gás. Então, gira para o lado e continua, horizontal, por mais muitos milhares de metros.
O fluido é injetado no xisto, abrindo rachaduras que deixam o gás aprisionado escapar. As fraturas são mantidas abertas com areia misturada ao fluido.
Gasodutos de refluxo coletam o gás e os fluidos usados, que passam a conter alta concentração de sal dos antigos mares a partir dos quais os depósitos de xisto se formaram.
Os poços revestidos para proteger as águas subterrâneas ocasionalmente apresentam falhas.
“Haverá alguns problemas, embora não sejam corriqueiros”, afirmou Bryan Swistock, especialista em recursos aqüíferos da Universidade do Estado da Pensilvânia. “As leis que estão nos livros são adequadas para lidar com isso.”
A eliminação da água salgada decorrente do uso da técnica é problemática, por causa da capacidade limitada das usinas de tratamento existentes, que não conseguem remover o sal, mas apenas diluí-lo a um nível aceitável o suficiente para lançá-la aos rios. As alternativas incluem novas tecnologias de reciclagem e a injeção em poços de descarte, nos quais a água é jogada de novo na terra para eliminação permanente.
Embora Nova York e Pensilvânia exijam que a água para eliminação seja armazenada em reservatórios com forros lacrados até que seja eliminada, alguns críticos temem que tais reservatórios poderiam vazar ou transbordar com tempestades.
Susan Obleski, porta-voz da Comissão da Bacia do Rio Susquehanna, disse que a agência avalia que a indústria de gás poderia precisar de até 106 milhões de litros de água por dia da bacia hidrográfica quando se desenvolver.
“Para comparação, campos de golfe precisam em torno a 190 milhões de litros por dia e usinas nucleares usam 568 milhões de litros”, afirmou Obleski.
A preocupação não é quanta água será usada, mas onde e quando. A utilização em temporadas secas ou de riachos em áreas remotas teria maior impacto ambiental do que em outros casos, disse Obleski.
“Um dos itens mais caros no processo de perfuração é a água, portanto, quanto menos possamos usar, melhor”, ressaltou Scott Rotruck, executivo em Chesapeake. “Estamos encontrando formas de usar menos água, transportar menos água e encontrando formas de reutilizá-la."
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