Valor Econômico
A indústria brasileira de mineração e siderurgia ainda não vê sinais consistentes de alívio da crise neste ano. Esse cenário, apontam executivos e especialistas, vai forçar a manutenção dos atuais níveis de até 50% de ociosidade da capacidade instalada das fábricas e, em alguns casos, levar a até mais ajustes. Com isso, projetos de investimentos, novos e de expansão, que já haviam sido adiados, ficam ainda mais comprometidos. Muitos deles podem ser simplesmente abandonados.
Na produção de aço, houve leves reações na demanda desde dezembro, com bom desempenho de setores como automotivo e construção civil, mas isso não foi suficiente para impedir o abafamento de seis dos 14 altos-fornos das grandes usinas e calibração dos fornos elétricos de miniusinas. O nível de queda na demanda e produção se mantém acima de 40% e empresas como Usiminas operam com 50% da capacidade ociosa. CSN, com 65%.
Hoje, além da fraca demanda interna, o setor enfrenta outro ponto crítico: a falta de mercado externo. De 30% a 40% da produção do país, principalmente de aço semiacabado, era destinada ao exterior. “Esse mercado desapareceu e nele vivencia-se uma verdadeira carnificina em termos de competição”, afirma Marco Pólo de Mello Lopes, vice-presidente executivo do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). “A prioridade nossa sempre foi o mercado interno, mas infelizmente o consumo local não absorve tudo, o que nos levou a exportar mais de um terço da produção.” Além disso, as empresas se deparam com maior competição de aço importado: já chega a 17% do consumo.
Lopes observa que, diante desse cenário, os investimentos, que poderiam até dobrar a capacidade do país, de 41 milhões de toneladas em 2008, ficarão comprometidos. De certo mesmo, só os projetos já iniciados da nova fábrica de tubos da Vallourec-Sumitomo, em Minas, a usina de placas da ThyssenKrupp, no Rio, e a segunda usina de aços longos da Votorantim, em Resende (RJ). Os dois últimos deverão ser inaugurados até o final deste ano.
As projeções de um relatório da corretora Geração Futuro sobre Usiminas e Gerdau apontam quedas drásticas de vendas, receitas e resultados financeiros neste ano para as duas empresas e retorno aos níveis de 2008 não antes de 2013. Para a Usiminas, a previsão de venda é 38,7% menor no primeiro semestre e de 27,5% no ano, comparado a 2008. A receita líquida, de R$ 15,7 bilhões no ano passado, só seria repetida depois de 2018.
Para a Gerdau, a visão não é muito diferente: as vendas deste ano têm projeção de cair 34%, de 19,1 milhões de toneladas para 12,56 milhões. Neste semestre, a retração seria da ordem de 47,5%. A receita líquida global do grupo, de R$ 41,9 bilhões no ano passado, só seria repetida em 2016.
A mineração, fortemente afetada pela crise mundial, está com a demanda no fundo do poço desde outubro. O grande desafio das mineradoras, segundo Roger Agnelli, presidente da Vale do Rio Doce, “é saber como retomar a demanda pelo produto, duramente afetada pelo corte de crédito”. Devido a esse cenário ainda nebuloso, a expectativa da Vale é produzir 225 milhões de toneladas da matéria-prima do aço em 2009, ante 301,7 milhões de toneladas em 2008 - queda de 25,2%, a maior da história da empresa.
O relatório de produção da Vale no primeiro trimestre trouxe números nada animadores, com decréscimo de 37% sobre um ano atrás. No segmento de commodities metálicas, como níquel, cobre e alumínio, houve estabilidade e até ligeira alta de volumes, mas os preços ainda se encontram na pior. Analistas fazem projeções pessimistas para o futuro dos metais. A Geração Futuro prevê recuo de 30% no volume de níquel a ser vendido pela Vale neste ano, para 195 mil toneladas, e uma queda de 50% nos preços até dezembro.
Também é esperada retração nas vendas de alumínio da ordem de 40%. A Vale teve de fechar, por conta da fraca demanda, baixo preço e custos elevados de produção, as operações de sua controlada Valesul, em Santa Cruz (RJ). A cotação do metal caiu para US$ 1,4 mil a tonelada, depois de ter atingido US$ 3,3 mil em meados do ano passado. Para o cobre, a queda prevista é de 27,5%.
O impacto na produção atingiu, até o momento, mais o setor de minério de ferro e isso deve se manter inalterado neste trimestre por causa do processo de desestocagem do produto por parte de clientes europeus. As usinas de aço na Europa, grandes clientes da Vale, estão operando com 50% da capacidade, usando estoques de minério de compras passadas. Américas, principalmente EUA, é onde a siderurgia enfrenta sua pior crise, observa Agnelli. A China desponta como o único mercado para o minério de ferro hoje no mundo, dominando 80% das transações de compras. Isso está levando a Vale a flexibilizar preços para garantir posição.
José Carlos Martins, diretor-executivo de ferrosos da Vale, espera alguma recuperação neste mercado no segundo semestre com base numa estimativa do WSA de redução do consumo de aço este ano em 14,9%. Para ele, se a produção de aço no primeiro trimestre caiu 16,5%, isso aponta para alguma retomada da atividade a partir de julho. “Se tudo isso ocorrer - programas de estímulo dos governos e fim dos estoques de minério nas usinas europeias - será muito bom”, diz o executivo.
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