Folha de Pernambuco
Há duas semanas, o ex-ministro da Fazenda, economista e professor emérito de análise macroeconômica, Delfim Neto, levantava uma indagação pertinente a respeito da “menina dos olhos” do Governo Federal, o pré-sal. Com propriedade, ele demonstrava preocupação sobre os efeitos que essa camada de petróleo que se encontra nas profundezas do mar poderia trazer para o País, que seriam muito positivos ou negativos. Para fundamentar a análise, Delfim Neto explica que a taxa de câmbio brasileira pode se valorizar em patamares elevados, causando um desgaste nas relações comerciais com outras nações.
Em consulta ao coordenador do curso de Economia da Faculdade Boa Viagem (FBV), Alexandre Jatobá, a reportagem pôde esclarecer melhor as questões acerca da taxa de câmbio, trazendo à baila explicações objetivas no que toca aos rumos da história econômica nacional. O professor afirma que o câmbio indica o valor de uma moeda em relação à outra (tomando-se como exemplo o real e o dólar). Há uma taxa cobrada pelo Banco Central para vender o seu dinheiro para um importador estrangeiro. Da mesma maneira, existe um preço para que se compre a moeda americana.
“Esses efeitos da taxa de câmbio acontecem não só com o pré-sal, mas com qualquer outro produto que for exportado. Se a taxa do pré-sal ficar alta, as matérias-primas daqui tendem a se valorizar e o dólar passará a ser mais barato para a população”, explicita Jatobá. Em decorrência disso, o consumidor local gastaria com viagens ao exterior, dando lucros extraordinários às empresas de turismo. Só que a mesma medida pode quebrar indústrias regionais. Com um valor acima do mercado, elas não teriam como negociar e os clientes em potencial a trocariam por concorrentes de fora.
Agora, numa tentativa estratégica de aumentar o Produto Interno Bruto (PIB), o governo pode desvalorizar o câmbio, o que acarretaria em um volume maior de exportações. “Uma das formas de crescimento é o incentivo à exportação. O que é positivo”, enfatiza o economista. Porém, Jatobá faz uma ressalva: câmbio desvalorizado faz os produtos locais ficarem acessíveis demais, atenuando o valor de compra quanto ao bolso do brasileiro. Fatalmente, o risco iminente é o de inflação por causa de uma política equivocada.
Tudo depende da dosagem tanto no caso da valorização, quanto da desvalorização do câmbio. Em 1994, por exemplo, a entrada do Plano Real fez o dinheiro do Brasil igualar-se ao dos americanos. Com um maior poder de compra, o brasileiro aumentou sua autoestima e passou a investir no exterior. Alexandre Jatobá conta que especialistas consideram a média de R$ 1,90 a R$ 2,95 como sendo uma taxa de câmbio justa.
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