Prejuízo

Rio Grande perde parte de seu patrimônio portuário

<P>A obra de ampliação dos Molhes da Barra é um dentre tantos empreendimentos que apontam um futuro promissor para Rio Grande. Concluído em 1º de março de 1915, os dois braços de pedra garantem segurança às embarcações que atracam no porto do Município e, com a reforma, deverá garantir ...

Jornal Agora - RS
18/08/2008 00:00
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A obra de ampliação dos Molhes da Barra é um dentre tantos empreendimentos que apontam um futuro promissor para Rio Grande. Concluído em 1º de março de 1915, os dois braços de pedra garantem segurança às embarcações que atracam no porto do Município e, com a reforma, deverá garantir a entrada de navios ainda maiores.

Entretanto, enquanto um novo cenário começa a tomar forma, parte da história e do patrimônio de uma das maiores obras de engenharia hidráulica está sendo perdida. Algumas casas habitadas por descendentes de trabalhadores que atuaram na construção dos Molhes encontram-se em péssimas condições. Uma delas, inclusive, já foi demolida pela guarda portuária.

A história inicia com a construção dos Molhes da Barra. Para tanto, técnicos e profissionais de diversos países se deslocaram até Rio Grande. Na época, algumas casas foram construídas para abrigar os funcionários envolvidos no empreendimento, além de servir para a prestação de serviços diretamente relacionados com a obra, como unidade de saúde e setor de monitoramento meteorológico. Tais imóveis resistem à força do tempo sem contar com qualquer tipo de estímulo público ou privado, e abrigam parte da história e da cultura náutica da cidade, além de espelhar um dos projetos de engenharia mais notório em todo o mundo até hoje.

Cerca de 4 mil pessoas atuaram ao mesmo tempo na construção dos Molhes da Barra, volume maior que o constatado na criação do dique seco.

A Superintendência do Porto do Rio Grande (SUPRG) não dispõe de nenhum projeto para a preservação patrimonial destes imóveis e locais que escondem parte do desenvolvimento portuário no Município. Caso nenhuma ação seja tomada, o porto continuará crescendo, mas deixará para trás parte de sua história.

Na tentativa de reverter este quadro, a Associação Rio-grandense de Proteção do Patrimônio Arqueológico (Arppa) há um ano atua na realização de pesquisas e estudos sobre a arqueologia náutica em Rio Grande. A entidade conta com o apoio da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), que disponibiliza pesquisadores, alunos e professores dos cursos de História, Oceanologia e Arqueologia. A universidade ainda contribui com intercâmbio pessoal e logístico para a realização dos trabalhos, por meio do Laboratório de Ensino e Pesquisas em Antropologia e Arqueologia (Lepan).

Através de saídas de campo, eles colhem informações entre os familiares de trabalhadores portuários, além de trabalhar na verificação do solo. Diferente dos historiadores, não utilizamos documentos nem livros para realizar nossas pesquisas. Estas são feitas a partir do estudo de patrimônio material e imaterial (entrevistas), explica o pesquisador da associação, Rodrigo de Oliveira Torres.

Nosso objetivo não é se voltar contra os empreendimentos anunciados para a cidade ou perante outros que estão por vir. Pelo contrário: a intenção é estudar melhor como processos anteriores de desenvolvimento portuário ocorreram no século passado, o que acaba explicando muito do que está acontecendo agora, exalta ele.

Para tanto, o projeto intitulado Monitoramento Arqueológico tem como objetivo produzir conhecimento para que ações possam ser colocadas em prática. A intenção é preservar o patrimônio cultural marítimo, fazendo cumprir a lei sem deixar de pensar no futuro da cidade, coloca o integrante da Arppa.

A deterioração destas casas, segundo o pesquisador, reflete na política de preservação do patrimônio do Município, que acaba sendo mais discursiva do que efetiva, fala o pesquisador.

Os estudos realizados pela Arppa deram origem a um relatório que já foi pauta de reuniões entre a entidade e a SUPRG. Até o momento, o porto não deu nenhuma posição sobre quais medidas deverão ser tomadas para a preservação da memória náutica ainda presente em Rio Grande. A arqueologia é investigativa. Busca na cultura materiais que contam a história, o passado. As casas fazem parte deste círculo, além do solo e das próprias pessoas, consideradas fontes orais, relatoras do que já ocorreu aqui em outras épocas através de seus descendentes. É assim que se resgata a memória para que o futuro possa ser compreendido, levando em consideração valores sociocultural e ambiental, diz Torres.

Denúncia ao Ministério Público

Com a demolição de uma destas casas, o Leban apresentou denúncia ao Ministério Público Estadual, a fim de garantir a preservação das demais residências ainda encontradas em diversos pontos da 4ª Secção da Barra.

A casa demolida, segundo o pesquisador, pode ter sido uma residência, uma unidade de saúde ou até mesmo um posto meteorológico. Não tivemos tempo de concluir o levantamento. Mas estas informações foram obtidas através do resgate de louças e demais equipamentos encontrados no local, como móveis, enfatiza.

Moradores fazem parte da história

Sem informação, os moradores que vivem nestas casas desconhecem a importância dos imóveis e aguardam por uma solução que lhes traga maior conforto. Estas famílias carregam parte da memória do antigo Departamento Estadual de Portos, Rios e Canais (Deprec), finaliza Rodrigo de Oliveira Torres.

O avô de Renata Souza trabalhava como inspetor portuário. Atualmente, ela vive na casa 6, uma vez que todos os imóveis daquela época são identificados com placas. Atualmente, ela dribla o tempo para permanecer no local. Várias tábuas estão apodrecidas e o último temporal desmanchou parte de uma parede. A casa era bonita, mas agora apresenta perigo de desabamento, o que já foi levantado pela própria guarda portuária, explica ela. A moradora conta que ainda possui móveis antigos. No entanto, desconhece a importância histórica do imóvel e do próprio local. Não tenho condições financeiras para recuperar a casa. Por isso, acho que o melhor seria derrubá-la para que o porto não nos tire daqui, fala ela, que mora em espaço tido como de expansão portuária.

Além dos móveis e demais utensílios encontrados junto às casas, a associação identificou moldes em madeira e louças que representam o primeiro grande salto portuário da cidade.

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