Agência Estado
O setor sucroalcooleiro vai pedir ao governo federal condições melhores de financiamento e novas linhas de crédito para a injeção de até R$ 6 bilhões nas usinas de açúcar e álcool. A pauta de reivindicações, elaborada na reunião da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), na terça-feira em São Paulo, deve ser discutida hoje entre emissários da entidade e representantes do Planalto e do Tesouro, em Brasília. O dinheiro viria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Do total necessário para dar fôlego aos usineiros diante das crises de preços baixos e da falta de liquidez, R$ 2,6 bilhões são do Programa Especial de Crédito (PEC), lançado no final do ano passado pelo BNDES. Mesmo com os recursos oferecidos, as condições de financiamento e de carência são consideradas proibitivas pelos empresários, o que não despertou interesse pelo PEC.
Segundo três empresários do setor, os juros cobrados por esta linha do BNDES estariam em linha com os praticados pelo setor financeiro. Pelas regras do PEC, os juros podem atingir até 20,55% ao ano, o prazo de carência para o pagamento é de apenas cinco meses e ainda a amortização teria de ser feita em oito meses.
Além da redução do custo financeiro, os usineiros pedirão prazos de até 36 meses para o pagamento de empréstimos utilizando a linha. Os usineiros, via Unica, irão pedir ainda a criação de uma nova linha de pré-embarque de R$ 3 bilhões e de outra, cujo valor não foi acertado ainda, para a revitalização do setor. A linha tradicional de pré-embarque que já existe no BNDES possui prazo de pagamento de até 18 meses, considerado excessivamente curto.
Para os executivos das usinas, a linha é essencial para a retomada do crescimento das exportações de açúcar esperada para este ano. Já a linha para revitalização do setor precisaria ser criada por meio de medida provisória, o que necessita uma discussão direta com a Casa Civil e a Presidência da República.
O trunfo para a obtenção desta linha de revitalização seria o fato de que o setor sucroalcooleiro foi o que mais investiu em produção e expansão por unidade de faturamento. O setor pede que esta linha tenha uma carência de até três anos. Os empresários avaliaram que o dinheiro estaria disponível, mas que o BNDES não discute flexibilizações em suas linhas, o que obriga uma ação junto ao governo, principalmente na Casa Civil e na Fazenda.
Pesa a favor dos usineiros a sinalização que o governo estaria sensibilizado e que, enfim, teria se convencido que a crise no setor sucroalcooleiro é grave. Além disso, o cenário de médio e longo prazo para o setor é positivo, com preços em alta do açúcar no mercado internacional e expectativa de retorno às exportações de etanol para os Estados Unidos diante da crise que afeta a produção de etanol de milho no território americano.
Entre os principais interlocutores nas negociações e conversas de usineiros com o governo estão o deputado Antonio Palocci (PT-SP) e a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Ainda chamado de ministro pelos usineiros, Palocci teria se reunido recentemente com representantes da Unica e foi informado do pleito. Além da ajuda dos dois parlamentares, colaborou para que o governo se convencesse de que a crise é séria nas usinas o resultado ruim do desemprego no setor agropecuário em dezembro do ano passado, puxado principalmente pela cana-de-açúcar.
Na última sexta-feira, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, disse que "o setor que efetivamente desempregou" na agropecuária foi o da cana-de-açúcar, responsável por 60% das 134.487 vagas formais de emprego fechadas em dezembro. "Grande parte disso é por causa do final da safra e também porque o setor efetivamente está apertado, enfrentou a crise e teve problemas. "Quando há o aperto, diminuem os custos e acabam também demitindo", afirmou o ministro.
Apesar da aproximação da direção da Unica com o governo, dentro da entidade nem todos os representantes concordam com o pedido de ajuda. Alguns membros do setor acreditam que um pedido de interferência governamental seria um retorno à dependência estatal.
Para estes representantes, quem está precisando de ajuda neste momento são usinas que já enfrentavam dificuldades antes da crise e que tiveram estes problemas expostos diante da falta de liquidez. Com crédito menor e seletivo ao setor, quem estava com problemas não conseguiu mais recursos. O presidente da Unica, Marcos Jank, foi procurado Estado mas não respondeu aos pedidos de entrevista.
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