Estratégia

Vale investe em centros logísticos na China para ampliar mercado

Valor Econômico
22/05/2009 07:50
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A Vale mudou sua estratégia de comercialização na China e decidiu construir centros de distribuição de minério de ferro no país. A companhia brasileira avalia erguer duas unidades, com capacidade de 2 milhões de toneladas cada uma. As províncias em estudo são Shandong, Hebei, Lianoning e Guandong, situadas nas regiões Centro, Nordeste e Sul. Em meio à crise global, a China é único mercado relevante em que a produção de aço ainda cresce.

 

Segundo o diretor-executivo de ferrosos da Vale, José Carlos Martins, a mineradora já assinou protocolos de intenções com quatro portos: Rizhao (Shandong), Qingdao (Shandong) Caofeidian (Hebei) e Dalian (Liaoning). Em Guandong, os planos ainda avançaram pouco, porque é uma região onde a siderurgia deve crescer no futuro. A empresa não revela os montantes que pretende investir. O projeto está na dependência da concessão de licenças pelo governo chinês, que é bastante rigoroso nessa área.

 

Ao invés de atender aos clientes apenas com importações como as rivais Rio Tinto e BHP Billiton, a Vale pretende operar também com estoques para reduzir a dependência das operadoras marítimas, que puxaram os preços do frete antes da crise. A mudança permitiria ainda atender pequenas e médias siderúrgicas no mercado spot, no qual a Vale começou a atuar recentemente. As usinas chinesas de menor porte produzem aço para a construção civil, um do setores mais beneficiados pelo pacote fiscal de US$ 586 bilhões do governo chinês.

 

"A estratégia de longo prazo da Vale é estar perto do cliente, seja atraindo siderúrgicas para o Brasil ou construindo centros de distribuição em regiões como o Oriente Médio ou a China", disse Martins. "Pretendemos operar como uma mina virtual, com mais rapidez e eficácia no transporte".

 

É em Rizhao que as tratativas estão mais adiantadas. Além do protocolo de intenções, assinado em novembro de 2008, a mineradora brasileira fechou um acordo para construir um terminal portuário para 300 mil toneladas de minério em conjunto com a Lan Bridge Group. Serão investidos US$ 410 milhões no terminal, com 75% de participação do sócio chinês e 25% da Vale.

 

Um diretor do porto de Rizhao disse a um jornal chinês que a construção do centro de distribuição é "essencial" para a Vale. "Antes o navio da Vale chegava e sua carga era comprada por conta da forte demanda. Hoje, os preços podem cair durante o trajeto", disse a fonte. "Se não houver armazenamento local, o minério importado hoje será vendido por preços baixos".

 

Rizhao - que significa nascer do sol em mandarim- é uma cidade de 2,78 milhões de habitantes, situada no centro da costa chinesa, em frente a Coreia do Sul e próxima do Japão. O porto local tem conexão por ferrovia com a região central e com as cidades costeiras, nas quais estão as maiores siderúrgicas chinesas. A cidade também fica perto de Hebei, a província que mais produz aço na China e onde está em estruturação, atualmente, o maior grupo siderúrgico chinês.

 

Martins explica que um navio carregado de minério demora 45 dias no trajeto entre o Brasil e a China, enquanto as concorrentes australianas e indianas gastam 10 dias. "Em 45 dias, o preço do minério sobe e desce, muita coisa pode acontecer", disse. Ele explica que ocorreu uma mudança importante na China e que hoje 80% do minério é negociado no mercado spot. A Vale começou a atuar nesse mercado nos últimos meses, depois de indianos e australianos, e está vendendo minério com 20% de desconto sobre o preço de referência de 2008.

 

Com os centro de distribuição locais, a Vale reduziria o tempo de entrega para dois a três dias por via ferroviária. Assim, a empresa evita repetir o cenário de 2007 e 2008, quando a demanda aquecida dobrou o custo do frete, que chegou a US$ 100 a tonelada. Com a queda do petróleo no pós-crise, o frete chegou a cair 80%, para US$ 20 a tonelada. Se o plano for concretizado, a Vale será a primeira grande mineradora com estoques na China, pois Rio Tinto, BHP e os indianos só operam com importações.

 

A China é o principal cliente da Vale no mundo, superando até mesmo o Brasil. No primeiro trimestre em relação a janeiro a março de 2008, as siderúrgicas chinesas elevaram em 1,4% a produção de aço - um ritmo muito inferior aos mais de 10% de anos anteriores, mas que impressiona em meio as quedas de outros produtores. Conforme a World Steel Associação, a produção mundial de aço recuou 22,7% de janeiro a abril ante igual período de 2008. Nos Estados Unidos e na União Europeia, a queda chegou 53,1% e 44,2%, respectivamente. O Brasil também foi atingido - as siderúrgicas locais cortaram a produção em 41,7% no período.

 

Segundo Arthur Kroeber, economista-chefe da Dragonomics, consultoria sediada em Pequim, a China está encorajando as siderúrgicas a manter a produção, apesar da queda da demanda, para evitar demissões e atingir as metas de crescimento da economia. O governo chinês quer garantir expansão de 8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009 e teme protestos se o país crescer abaixo desse patamar. O presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, Paul Liu, conta que o governo está procurando as siderúrgicas, principalmente médias e pequenas, e garantindo a compra do aço. Pequim vai utilizar o insumo em seus bilionários projetos de infraestrutura.

 

Na China, os principais clientes da Vale eram as grandes siderúrgicas, atendidas por meio de contratos de longo prazo, com preços negociados anualmente. As 10 maiores do país respondem por 42% da produção de aço em 2008. "Mas o aumento da demanda em 2009 está nos pequenos produtores", disse Kroeber. Enquanto as maiores siderúrgicas chinesas investiram em aços especiais - utilizados em máquinas, carros e eletrônicos, produtos cuja produção desabou seguindo a queda da exportação -, as pequenas produzem aço para a construção civil.

 

Com a queda dos preços do frete, as siderúrgicas de pequeno e médio porte tiveram acesso ao minério de ferro de melhor qualidade do Brasil. Essas empresas costumavam comprar apenas no mercado spot de produtores locais ou de mineradores indianos. Antes da contaminação dos emergentes pela crise em setembro, o Brasil respondia por 25% a 28% da importação de minério de ferro da China, enquanto os indianos atendiam 12,5% da demanda, conforme dados do governo chinês. Com a crise, a Vale anunciou corte de produção e demitiu trabalhadores. A participação do Brasil caiu para 16% no primeiro trimestre deste ano, enquanto a da Índia subiu para 23%. Os dados do governo brasileiro indicam que a exportação de minério de ferro para a China cresceu 50% de janeiro a abril, o que pode mudar esse cenário.

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