“Oh, me. Oh, my. Oh, dear” – repetiria a hiena pessimista de ‘Lippy e Hardy’, desenho animado sessentão da Hanna-Barbera, sobre este nosso atípico ano de 2020. Na dublagem, os lamentos em português viraram “Oh, céus. Oh, vida. Oh, azar”. Aliás, era com essa expressão que Hardy desencorajava toda e qualquer nova empreitada do seu companheiro, o otimista e bom camarada leão Lippy.
“Sério que o Marcelo está desenterrando algo da década de 1960?!”
Caros, as hienas Hardy ainda estão entre nós.
Todos os anos, quando participo do lançamento de programas de estagiários ou trainees, me perguntam o que eu espero desses novos profissionais. A resposta é sempre a mesma: “que tragam inovação, conhecimentos, metodologias e olhares novos. Que questionem o status quo e a maneira convencional de se fazer as coisas.”
Os veteranos da empresa costumam pensar: “Muito legal, e logicamente vai sobrar pra gente ensinar esses fedelhos”. Os calouros, também ficam na defensiva: “Tá bom, lá vêm os velhinhos reprimir a nossa criatividade e frear o nosso crescimento”.
Conflito de gerações? Oh, vida. Oh, azar!
Se você está começando a sua vida profissional em 2020 pode se considerar um sujeito de sorte: experiências, dúvidas e dilemas inéditos.
Não lamente a falta de interação com os colegas, amigos e professores, nem o cancelamento da festança de formatura - mesmo que até estivesse disposto a pagar o mico de subir no palco do auditório, de toga e capelo, ouvir o discurso piegas do paraninfo e pegar o canudo da mão daquele professor com quem você nunca teve aulas.
Tudo o que você pretensamente aprendeu sobre CV, entrevistas, dinâmicas de grupo, etc perdeu a validade. Os processos seletivos estão sendo conduzidos online e de forma bem diferente. Mas, ok, apesar de tudo você foi lá, focado, e conseguiu uma vaga! Entrou pro time da empresa, mas sequer saiu de casa. O mundo chega até você por plataformas de videoconferência. Onboarding digital. Você, no máximo, viu a cara do chefe e de mais duas ou três pessoas.
Cadê todo mundo? Cadê a empresa? No que eu vou trabalhar? Como me sentir incluído e contribuir?
E dá-lhe dúvidas: dizem que o refeitório da empresa é super legal. Vou almoçar sozinho, nada de cafezinho com os colegas, nem mesa de pingue-pongue, piscina de bolinhas... Oh, vida. Oh, azar.
Quer saber?
A COVID19 igualou as condições no jogo corporativo. Estamos todos no mesmo marzão. Pare de se lamentar feito a hiena Hardy! Construa o seu barquinho, encare o tsunami. De frente! E aproveite a oportunidade.
O ‘aqui sempre fizemos assim´ morreu. R.I.P.
Há meio ano estamos fazendo tudo diferente. Momento inédito. Pra todos. Inédito quer dizer sem precedentes, sem rule book. Estamos todos aprendendo a lidar com a situação. Toda a experiência acumulada por profissionais com 30, 20, 10 anos de experiência não serve pra nada nesse momento.
Sim, você pode pensar que eu sei muito mais do que você. Grande coisa pra mim! Já ouviu a expressão ´what got you here, won´t get you there´?
Ao longo da vida precisamos nos desapegar de nossas fórmulas de sucesso e adotar novos comportamentos e atitudes para continuarmos progredindo e crescendo. A maioria das pessoas não se dá conta disso. A sua vantagem é que você é uma folha de papel (quase) em branco. E sabe aquele papo de desaprender? Balela total. Só existe o aprender. Oh, vida. Oh, sorte!
Encare o momento como um aprendiz, com curiosidade e iniciativa, tomando riscos, experimentando, testando e aprendendo.
Scrum neles!
Não aguarde o mundo, a empresa ou o seu chefe estenderem a mão pra você. Chance mínima. Vai lá e faz. Foque naquilo que é essencial. Descubra como você pode fazer a diferença para o mundo, a empresa, o cliente, seu chefe e colegas de empresa.
Embora a tecnologia seja apenas um enabler, ela se tornou diferencial. Quem sabe usá-la direitinho está se destacando. E a sua geração já tem uma tecnologia atualíssima embarcada. Tire proveito disso, mas use-a para evolucionar, revolucionar, pivotar maneiras de trabalhar e fazer negócios. Oh, vida (boa). Oh, sorte!
Outra pergunta que está no top 10 das conversas corporativas: quais as competências essenciais para se dar bem no mercado de trabalho, no futuro do trabalho ou no trabalho do futuro?
Sei lá! Se soubéssemos não seriam do futuro, não é mesmo?
Mas tenho uma pista de que adaptabilidade e flexibilidade serão sempre necessárias justamente para nos ajudar a desenvolver novas competências permanentemente. É sobre entender o ambiente e saber usar as ferramentas que permitem respostas e ajustes de rotas rápidos e certeiros - dentro do possível. É assim que se constrói um profissional autoconfiante e independente, um líder comprometido com resultados e com a melhoria contínua.
Perdoem o trocadilho infame, mas “Oh, céus! é o limite!”
A vida é feita de altos e baixos. Crises vêm e vão. Que bom aprender a lidar com elas tão cedo.
Sua vantagem é que você está apenas começando a caminhada. Na próxima pandemia, tem o dever de não cometer os erros que todos estamos cometendo agora.
Sobre o autor: do mercado financeiro à gestão de pessoas, Marcelo Nóbrega é um executivo inquieto que gosta de fazer a diferença, tanto para o negócio, quanto para as pessoas. Liderou a área de RH de grandes multinacionais. É autor do livro "Você está contratado!", professor universitário, palestrante, coach, mentor, conselheiro e investidor anjo de HR Techs, âncora do programa Transformação Digital e cohost do Kenobycast e escreve para os blogs da Gestão RH e HSM Management. Entre outros reconhecimentos pela sua atuação, em 2018 foi eleito o RH mais influente da América Latina e Top Voice do LinkedIn.
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