Armando Cavanha
Começam a vir à tona discussões de como serão os investimentos que se aproximam, com os resultados dos últimos leilões de 2017. Ainda com alguma cautela, os diversos atores de supply chain de bens e serviços se perguntam como será a retomada. Como dizem alguns fornecedores, “quando vou ter o meu contrato na mão?”.
As licitações de blocos exploratórios trazem boas perspectivas para os negócios e para a geração de empregos locais. No entanto, há uma sequência natural nos investimentos que seguem a cadeia produtiva de óleo e gás:
A Exploração, primeira e indispensável atividade, requer de 1 a 2 anos para a aquisição sísmica, processamento, interpretação, locação, etc… São contratos de petroleiras ou consórcios operadores com prestadores de serviços tecnológicos, todos estrangeiros, com conteúdo local quase que inviável no Brasil. Empresas como PGS, CGG, SPECTRUM, dentre outras americanas e européias. Seus navios especializados percorrem linhas pré desenhadas em mar, obtendo dados do subsolo e permitindo estudos de geólogos e geofísicos sobre possíveis acumulações e suas dimensões de potenciais reservatórios de óleo e/ou gás. Terminados os trabalhos, retornam ao seu país de origem ou se deslocam para outras regiões do planeta para novos trabalhos.
Após isto, caso os indicativos sejam positivos, ocorre o “drilling” ou perfuração. São contratadas sondas, normalmente afretadas de mercado bastante especializado, onde por 1 a 3 anos são feitos poços para “descobrir” os hidrocarbonetos. Os provedores de servicos sao muitos, de origem estrangeira e grande porte, apenas com representação e suporte local. Dentre eles estão Seadrill, Transocean, Diamond, Maersk, etc.
São feitas medições sofisticadas de “logging” ou perfilagem, obtendo-se dados das formações laterais da formação rochosa a partir de um poço, em profundidades de 3 a 7 mil metros. Empresas típicas são Schlumberger, Halliburton, Baker, com pouquíssimo conteúdo local. Ainda podem ser requeridos poços adicionais de delimitação. Mais tempo ainda demandado em atividade de tecnologias importadas, pelo menos meses ou anos.
Se tudo for positivo, segue-se para o desenvolvimento da produção. São feitas a Engenharia Conceitual, Engenharia Básica, Engenharia de Detalhamento, gastando-se mais 1 a 3 anos, seriam tempos típicos.
Ou seja, normalmente 5 ou mais anos após as licitações de blocos exploratórios iniciam-se as contratações de afretamento de FPSOs, possíveis contratos e compras locais, parciais, de topside, subsea e poços adicionais. Está fase pode durar de 0 a 3 anos, tipicamente, mas tempos diferentes são possíveis.
Acresce-se a isto tempos para licenças ambientais, nem sempre imediatas atualmente.
Portanto, há duas considerações importantes para fornecedores.
A primeira, diz respeito ao tempo para se obter um contrato de máquinas e equipamentos, a partir de uma licitação de blocos exploratórios, que pode ser longo, no casa de 3 a 12 anos.
A segunda, que o modelo de contratação tende a ser, no Brasil, mais por empresas construtoras e prestadoras de serviços do que petroleiras ou consórcios. Como exemplo, SBM, MODEC, TEAKEY, etc. Ou seja, menos compras, mais prestação de serviços com bens e equipamentos embutidos.
Assim, “o investimento pesado vem depois”, ou seja, 70% do valor total de um projeto de E&P se inicia em não menos que 3 anos após um leilão.
Aqueles projetos já mais avançados no processo exploratório e de produção devem demandar tempos mais curtos para bens e serviços. Os iniciais, puramente exploratórios ainda, terão de cumprir a sequência natural dos negócios.
Com a diversificação de donos de blocos e ativos no país, cada vez mais a tendência é termos modelos de atividade e contratação do tipo globais. Cada vez mais fornecedores de classe mundial. Cada vez mais modelo Indústria e menos modelo Estado. Cada vez mais OPEX do que CAPEX.
Muitas mudanças nos esperam, podemos nos preparar para convivermos cada vez de forma mais harmônica com isso.
Sobre o autor: Armando Cavanha (cavanha.com) é professor convidada da FGV/MBA
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