As operações com grãos no Porto de Santos vêm causando um transtorno maior do que o mau cheiro já conhecido por moradores de bairros próximos ao complexo. Desta vez, o problema é com a emissão de micropartículas de produtos como soja e açúcar, que são dispersados com a ajuda do vento. Para traçar um plano que minimize estes impactos, uma reunião entre o Ministério Público (MP), a Codesp, a Cetesb e os terminais 39 e 40 deve ocorrer nas próximas semanas.
A decisão ocorreu após reunião entre o vereador Sadao Nakai (PSDB) e o presidente da Cetesb, Otávio Okano. A convite do parlamentar, também esteve presente o promotor de Justiça do Meio Ambiente e Urbanismo de Santos, Daury de Paula Júnior. Um abaixo-assinado com 2 mil adesões foi entregue ao MP.
Para o gerente da Agência Ambiental de Santos da Cetesb, Cesar Eduardo Padovan Valente, o problema está em defeitos na operação e no sub-dimensionamento dos efeitos que podem acontecer ao meio ambiente e à população.
Por enquanto, nenhum terminal foi autuado. A ideia é ver com a Codesp qual é o tipo de punição que as empresas podem sofrer, já que a estatal é a responsável por fiscalizar as operações no complexo santista.
Em dias secos, normais no inverno, a situação se agrava ainda mais. De acordo com a Cetesb, a grande quantidade de micropartículas é resultado das operações, da baixa umidade e da falta de chuvas. Desde o final do mês passado, os índices de poluição na Ponta da Praia têm sido elevados.
Um medidor de poluentes instalado na Praça Engenheiro José Rebouças registrou, em dois dias deste mês, 163 microgramas de micropartículas por metro cúbico de ar. O índice, que foi recorde, é considerado excepcional, já que o normal é de 50 microgramas de micropartículas por metro cúbico de ar.
A grande quantidade de poluentes também foi verificada em pelo menos outros nove dias de julho. O índice mais alarmante da medição alcança os 200 microgramas de micropartículas por metro cúbico de ar e é considerado prejudicial à saúde.
Prevenção
Uma das alternativas é obrigar o uso de filtros nos terminais que operam produtos a granel. A medida já é utilizada, mas, segundo os moradores, não surte o efeito esperado. A dona de casa Nadir de Souza mora há 12 anos no Estuário e garante que vê o filtro soltando poeira para o lado da Avenida Pedro Lessa.
“Os períodos mais complicados são no final da tarde e de manhã cedo. A poeira entra pelo forro da minha casa e nada fica livre”, afirma.
A dona de casa explica ainda que a poeira agrava os problemas respiratórios de seu marido, que sofre de asma e outras doenças pulmonares. O mesmo acontece com crianças e idosos, que são mais sensíveis à presença das partículas.
O aposentado José Roberto Barros Fausto, que foi operado recentemente, conta que sofre com a poeira e com o cheiro, que são resultado das operações com soja. “Parece uma neblina, todo mundo sente esse efeito, principalmente nesta época, mas isso acontece durante o ano inteiro”.
De acordo com os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Ponta da Praia abriga 36.940 moradores. Já o bairro da Aparecida conta com 30.448 habitantes. Macuco, e Estuário possuem juntos, aproximadamente, 26 mil munícipes, totalizando mais de 90 mil pessoas nestas áreas de risco. Além disso, mais de mil unidades habitacionais serão construídas até 2012.