Oceanógrafo da USP e da rede INPO, Ilson Silveira defende ampliação do monitoramento e da rede de observação.
Redação TN Petróleo/Assessoria INPOUm fenômeno oceânico de alto impacto vem sendo acompanhado por pesquisadores brasileiros desde 2011: vórtices gigantes que se originam na costa africana, atravessam o Atlântico Sul e interagem com a Corrente do Brasil. Eles transportam água mais quente, podem alterar padrões atmosféricos e, em interação com a Corrente do Brasil, geram possíveis consequências para os projetos de plataformas de petróleo no Sudeste do país. O alerta é do professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), Ilson Silveira, membro da rede de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas (INPO).
Referência em circulação oceânica, Silveira tem focado suas pesquisas na Bacia de Santos, onde estão localizadas importantes reservas do pré-sal. Ainda não se sabe ao certo como os vórtices afetam essas estruturas no longo prazo, o que torna o monitoramento essencial. "É preciso levá-los em consideração na construção de estruturas offshore de engenharia oceânica", destaca Silveira.
Por meio de cruzeiros científicos, imagens de satélite, observações diretas e modelos numéricos de alta resolução, a equipe de Silveira mapeou novas correntes e vórtices ao longo de toda a costa brasileira, de Oiapoque ao Chuí. Entre as descobertas estão a Subcorrente Norte do Brasil, a redefinição da Corrente Sul-Equatorial como uma série de pequenos jatos, os Vórtices de Barreirinhas e o Vórtice Potiguar, além dos vórtices quase-estacionários da Corrente do Brasil ao largo da Bahia.
"Esses vórtices têm o potencial de causar estresse em plataformas, influenciar correntes que escoam junto ao fundo marinho e afetar a exportação de organismos da região costeira para a oceânica. O oceano aberto tem pouca biomassa, mas é a diversidade e a troca com o oceano costeiro que sustentam parte da vida marinha ali", afirma o cientista.
De acordo com Silveira, cerca de cinco vórtices das Agulhas por ano atingem a margem sudeste brasileira. Essas feições giratórias, com centenas de quilômetros de diâmetro, trazem energia, calor e até nutrientes de outras partes do Atlântico, alterando o comportamento hidrodinâmico da Corrente do Brasil — uma corrente essencial que bordeja a quebra da plataforma continental e influencia o clima, a pesca e a segurança marítima.
Ciência e indústria no mesmo barco
As pesquisas lideradas por Ilson Silveira têm relevância na Engenharia Oceânica, na previsão de riscos para plataformas offshore e na salvatagem ao longo das rotas marítimas. A cooperação acadêmica entre a USP e a Petrobras, através do Grupo de Meteo-oceanografia do Centro de Pesquisas, Desenvolvimento e Inovação Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), mostra o potencial de integração entre ciência básica e indústria. A parceria já rendeu diversos artigos científicos e gerou conhecimentos que foram incorporados em documentos "metocean" de engenharia.
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