Valor Econômico
Quando Jeroen van der Veer avalia seus cinco anos como presidente-executivo da Royal Dutch Shell, ele recorre a uma frase de John F. Kennedy. Uma de suas prioridades, diz ele, foi mudar a cultura, para que os funcionários da Shell pensassem menos em si mesmos e mais sobre “o que você pode fazer pela companhia”.
No clima febril da companhia em 2004, depois que foi revelado que suas reservas de petróleo e gás tinham sido divulgadas erroneamente durante vários anos, essa mudança de cultura era extremamente necessária. Os incentivos para os administradores e o staff tiveram de ser apresentados de maneira direta.
“Se você se esforça pela companhia, você progride nela ou consegue aumentos de salário”, diz hoje Van der Veer.
É uma postura característica de seu estilo administrativo. Conforme ele diz: “Venho de um país calvinista, onde você simplesmente trabalha e se esforça, mas nunca diz se está ou não satisfeito com aquilo”.
Pessoalmente, ele é espirituoso, com um senso de humor afiado, mas como líder da Shell ele vem sendo firme, consistente e muito cuidadoso.
O fato da Shell poder ser atualmente capaz de manter sua independência é uma medida de seu sucesso. Quando ele assumiu, e durante um ano ou dois depois disso, não era esse o caso. “Tínhamos o problema das reservas e precisávamos deixar aquilo para trás”, diz ele.
Mesmo assim, no momento em que ele se aproxima do fim do mandato - deixa o cargo no fim de junho -, sua administração enfrenta seu mais duro teste desde aquela crise. A queda nos preços do petróleo, que do pico de US$ 150 o barril em julho, caiu para os atuais US$ 50, enquanto os custos permanecem elevados, pelo menos no momento, está pressionando muito o setor.
Analistas da consultoria Bernstein Research vêm afirmando que a lucratividade da produção das grandes companhias de petróleo, medida pelo lucro líquido por barril de petróleo ou gás, provavelmente foi a menor desta década no primeiro trimestre.
Na verdade, o setor está de volta aos dias em que o barril de petróleo custava aproximadamente US$ 10, e muitas das grandes companhias - a Shell entre elas - foram forçadas a se fundir para cortar os custos.
Hoje, a preocupação não é com a sobrevivência da companhia, e sim com suas perspectivas de longo prazo. Existe o risco do aperto de suas finanças afetar os investimentos em novos projetos que serão as fontes de seu crescimento.
Conforme observa Van der Veer: “Investir ou não investir; esta é a questão na qual penso”. Sua resposta, até agora, tem sido investir. A Shell pretende ter este ano o maior programa de investimentos do setor privado no mundo, algo entre US$ 31 bilhões e US$ 32 bilhões, um pouco mais que os investimentos do ano passado e mais que os investimentos planejados pela BP, de menos de US$ 20 bilhões.
Entretanto, aos preços atuais do petróleo a Shell não está gerando caixa suficiente para bancar esse programa de investimentos e seu dividendo.
“Não estamos nervosos com o preço do petróleo no momento, mesmo que ele chegue a US$ 35 o barril”, diz Van der Veer. Entretanto, acrescenta ele, “se o preço permanecer firme num patamar baixo, sua alavancagem continuará alta o tempo todo porque você ainda é um grande investidor e paga dividendos. A certos volumes isso pode ser muito alto.”
A alavancagen - a dívida líquida em relação ao capital empregado - deverá subir de cerca de 7%, hoje, para pouco mais de 20% no fim do ano. Van der Veer diz que “prefere” mantê-la abaixo de 30%.
É por isso que a Shell está tentando reduzir os custos, eliminando milhares de empregos e negociando cortes nos preços com seus fornecedores. “Se o ambiente de negócios continuar muito ruim - espero que não, mas se for o caso -, então esperamos economias de aquisição bem grandes de nossos fornecedores”, diz Van der Veer.
Em algumas áreas, os custos da companhia já caíram de 15% a 20%. Essas reduções vão ajudar a Shell a continuar com seus projetos de investimento.
“O segredo é descobrir um nível de investimento que você possa aumentar um pouco ou diminuir um pouco, dependendo do ambiente de negócios, e portanto sujeito aos preços do petróleo e do gás, mas sem que haja grandes oscilações para cima e para baixo. Como a natureza do nosso setor é de longo prazo, você está construindo as coisas para que elas durem anos”, diz Van der Veer.
Chegar à estratégia de investimento certa para a próxima década será um trabalho para Peter Voser, o diretor financeiro da companhia que vai suceder Van der Veer.
“Um líder novo deverá fazer coisas novas”, diz Van der Veer. “Trabalhamos juntos no assunto por muitos anos, mas no final das contas, será com ele. Tudo o que vejo é que a Mãe Natureza colocou petróleo e gás suficiente no solo. Vejo muitas oportunidades de investimento.”
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