Valor Econômico
A parceria entre a Petrobras e a venezuelana PDVSA na refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, esbarra em uma divergência sobre os preços de referência do petróleo que será processado na unidade. O tema está na pauta da reunião de amanhã, em Caracas, entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez. Em dezembro, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, enviou carta ao ministro venezuelano de Energia, Rafael Ramírez, informando que a divergência precisa ser resolvida. Gabrielli acompanha a visita oficial.
O acordo inicial entre as duas estatais previa que cada uma assinasse contratos de venda de 100 mil barris/dia de seu petróleo para a refinaria, que terá capacidade de processar 200 mil barris de petróleo pesado. Também conhecida como Refinaria do Nordeste, ela será controlada por uma empresa de capital misto, sendo 60% da Petrobras e 40% da PDVSA.
Paulo Roberto Costa, diretor de Abastecimento da Petrobras, disse ao Valor que a empresa já assinou contrato entre a refinaria prevendo que o petróleo brasileiro - do tipo Marlim, produzido na bacia de Campos - terá seu preço referenciado no mercado internacional. Isso significa que está sujeito ao “desconto” de praxe em relação ao Brent, por exemplo, que é um petróleo mais leve e mais caro.
Como Venezuela e Brasil produzem petróleo pesado, que chega a vendido até US$ 20 abaixo do Brent (que é referência no mercado europeu), a Petrobras pediu que a PDVSA assinasse um contrato similar. É o mesmo modelo aceito pela espanhola Repsol quando comprou 30% da refinaria Alberto Pasqualini (Refap) no Paraná.
Segundo Costa o acordo estava quase fechado quando a PDVSA pediu uma reavaliação e informou depois que não aceitava usar um preço de referência internacional. Prefere uma “referência Venezuela”. Gabrielli informou Ramírez que essa forma “não é aceitável”.
Agora, nas palavras de Costa, a companhia “vai escutar” o que os venezuelanos têm a dizer. Até o momento, a Petrobras foi a única empresa da sociedade a investir na refinaria. Pagou todas as despesas com terraplanagem e já recebeu proposta para aquisição das principais unidades da refinaria.
Já se arrasta há cinco anos a negociação entre Petrobras e PDVSA sobre investimentos conjuntos. Inicialmente a parceria envolvia a entrada da brasileira na exploração e produção de petróleo na faixa do Orinoco e de gás em Mariscal Sucre, além de projetos de produção em cinco campos maduros. Na Venezuela, a Petrobras teria participação de 40% nos projetos, mesmo percentual oferecido à PDVSA na refinaria do Nordeste, que nem tinha localização definida à época.
A Petrobras acabou desistindo de explorar gás e petróleo na Venezuela. Entre as dificuldades, houve indefinição no tamanho das reservas no Orinoco, mudança nos contratos da Venezuela com as petroleiras e as descobertas no Brasil, que vão exigir muito pessoal qualificado e investimentos. Apesar de os projetos serem ligados e a Petrobras ter desistido dos negócios na Venezuela, a PDVSA segue como sócia potencial da refinaria.
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